Xidiminguana sabe o que viu- Xikona anga xivona

Por Dadivo José

Com mais de 80 anos de idade, Xidiminguana é uma voz autorizada para falar de tudo sobre o relacionamento humano. Depois de tanto viver, aos 50 anos (esta música foi criada nos meados da década 1980) já tinha percebido que na discussão entre casal ninguém deve se meter. Quando as pessoas se separam é porque algo deve ter acontecido entre elas.IMG_5562.JPG

Seria difícil falar de músicas de Xidiminguana (devem ser mais de 150, acho eu), mas esta, “Xikona” (algo existe), chama–me particular atenção por causa da maneira como andamos todos nos palpitando pelas vidas alheias, causas de desencontros entre pessoas que se fizeram juras de amor, quando só elas sabem o que terá andado torto.

Xidiminguana diz que se um homem se desligar de uma mulher bem formosa é porque existe algo.Episódios que os olhos tenham testemunhado. Ainda que a mulher em causa tenha boas “abóboras” como imagem de marca traseira, tudo que um homem gosta, quando o assunto já não dá entre eles, melhor mesmo é separar-se.

As pessoas vão até perguntar: “mas aquele gajo está bem de cabeça? Perder todas aquelas cenas?” A abobora é uma verdura bem recheada, regada e cuidada, como um homem vai perder aqueles “makwembe”, do nada?  No entanto, só ele mesmo sabe o que se passa na sua cabeça e no seu coração.

Aliás, já tinha falado Fernando Chiure, numa das passagens da sua música: “Loko u vona wa nuna a rendzelekela uku nha utomi lweyi, swa vavisa mbilwini” (podes ver alguém aparentemente saudável, mas há dor no coração). Portanto, nós não sabemos o que existe dentro de quatro paredes.

Xidiminguana canta esta música em tempos de crise, Guerra Civil e fome, em que toda mulher faria de tudo para estar sob a asa protectora de um homem abastado. Entretanto, “Kota Xidi” não deixou dizer que até aquela mulher largou o marido cheio de fortunas, incluindo machimbombos.

Para o compositor, alguém pode ter até alguns carros, mas quando já são machimbombos, aqueles que transportam muitas pessoas, aqueles que são grandes, indicadores de bem-estar são de nível elevado. É este homem que é abandonado por uma mulher, aquela mulher moçambicana cuja distribuição da riqueza não lhe contemplava, aquela mulher cuja educação não lhe abrangia, aquela mulher cujo poder financeiro estava ao alcance de binóculos.  Esta mulher abandona o lar porque viu algo que os olhos de fora não enxergam, só os olhos dela que estão dentro do coração, que estão dentro do corpo dela, conseguem enxergar. Nós não sabemos o que se passa no leito, não sabemos como é que o diálogo verbal e corporal (não) flui.

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Até porque no caso de Xidiminguana, ele vomita a esposa porque ela usou toda a criação dele para alimentar o amante. Parece ser pesado o termo “Ku Dligwa” (vomitar), mas é assim que nos sentimos quando nos separamos de alguém que amamos. Algo que já tínhamos consumido, mas que não caiu bem ao coração. O que acontece é que as pessoas apanham diarreia ou vomitam. E ele fê-lo porque não podia suportar ver um homem que come tanta carne à custa dele, até sair calos na língua. Esta passagem mostra o que músico viu na esposa, mas há muitos que não mostram o que viram com as suas esposas. Às vezes é preferível abandonar as mordomias de um lar de fachada para respirar sorrisos verdadeiros. Porque se assim não procederem, haverá espaço para espancamentos, baleamentos, esfaqueamentos, pauladas, marteladas e frituras.

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