Viajar por Kukavata (concl)

Por Dadivo José

Os obreiros

  1. Roberto Chitsondzo

Como o havia apelidado numa outra crónica, Roberto é uma espécie de viúva de dois maridos nos Ghorwane. Aquela mãe que garante a harmonia dos filhos. Aquele que é o responsável por transmitir os valores dos Ghorwane aos novos membros.

Neste álbum oferece apenas dois temas originais e, depois, como que a mostrar aos outros como trabalhava com os companheiros já desaparecidos, canta duas músicas de Pedro Langa. Não é grande guitarrista, mas o que se lhe pede para fazer com aquela acústica, fá-lo com paixão e dá uma sonoridade impar.

Se estamos a dizer que este Ghorwane deve reinventar-se, sempre, para responder cada vez mais o passado, há que ter em conta, também a passagem de testemunho aos mais novos, a nova geração, mesmo a de fazedores e consumidores, abrindo espaço para os jovens que vão assumindo que pertencer a este grupo deve ser honroso. Chitsondzo cantou ao lado de Ardiles, abriu espaços para o Muzila entoar Vana va Ndota em alguns espectáculos e, acima de tudo, para não se sentir sufocado com as músicas de Zeca e Pedro, chamou ao Antoninho a responsabilidade de passar de um simples tocador de trompete, para um dos vocalistas.

Assume a passagem do testemunho, as vezes de forma gradual, outras aceitando a ruptura. Parabéns por esta decisão. Sábia decisão foi também a de melhor aproveitar as músicas dos falecidos integrantes e compositores da banda, contrariamente ao que acontecera em vana va ndota.

Tem sido difícil apontar os dedos a um ídolo, mas há que dizer isto. Chitsondzo anda distraído nos espectáculos, esquecendo as letras das suas músicas e ou a sequência. Nisto, ele tem a desvantagem de a legião dos fãs da banda conhecer todas as canções de tal sorte que qualquer falha é facilmente notável. Desolador.

  1. Carlos Gove

Tocou todas músicas do disco, exceptuando a segunda faixa, cujo baixo foi executado por Childo Tomas. Ele está para Ghorwane tal como Ghorwane está para ele. Ainda bem que logo se apercebeu disso e parou com a aventura Nondje e voltou para o seu lar. Andou 7 anos fora da banda e voltou para dar energia, disciplina e sonoridade. Está claro que ele sabe muito bem separar as águas. O disco pessoal Massone mostra claramente que dois amores cabem no mesmo coração quando prioridades estão claramente definidas. Bem-vindo e Ghorwane agradece.

  1. Jojo-

Entrou para a banda depois que o Schwalbach viajou para Brasil, em 1995. Gravou Kudumba com Jorge Cesar, Paito e Carlitos Gove. Juntos fundaram Nondje, o que lhes valeu a expulsão do grupo em 1999. Agora regressou, foi aos estúdios para gravar Kukavata e está muito bem encaixado na banda. Se por um lado, reconhecemos as qualidades do John Schwalbach, por outro, testemunhamos o salto qualitativo da banda neste álbum, se comparado com o anterior, inequivocamente, parte do mérito irá ao Jojo pelo excelente trabalho que ele faz com o teclado.

  1. Tony Paco

Ghorwane não consegue andar sem o percussionista. Tony Paco é um músico de outros mundos e isso sente-se cada vez que ele toca. Uma parte bonita é perceber que o homem encarna o ritmo das danças moçambicanas quando ele toca.

  1. Paito

Este músico é um caso de estudo. Toca bateria, precursão, Baixo, trompete e guitarra (até onde sei). Já tocou com quase meio mundo. Pertenceu a banda RM. Entrou para os Ghorwane nos tempos de Riquito Mafambane. Fez percussão no álbum Kudumba, mas foi com ele na bateria que se fez a promoção do álbum. Saiu em 1999 e foi o primeiro a regressar dos 4 desertores. Gravou vana vana ndota e, neste álbum, participou em seis temas. Parece estar fora da banda agora por alguma indisciplina. E uma pena, porque dentro ou fora da banda, Paito será sempre um músico a ter em conta.

  1. António Baza

Está na banda um pouco desde a sua fundação. Foi sempre um menino discreto, até que decidiu libertar-se. Primeiro mostrando os seus dotes de bailarino e depois como vocalista. Ele segura o espectáculo dos Ghorwane. Toca, canta e dança durante 2 horas. Parece um adolescente de 17 anos. Dá gosto vê-lo. Esteve com a banda nos bons e nos maus momentos. Assistiu as tragédias, as separações e os reencontros. Representa o passado da banda e aponta a direcção do futuro. É bom compositor e roubou alguma coisa do irmão Júlio. A bíblia fala de Isau e Jacó, os dois meninos de Isac, filhos de Abrão, que serviu de cobaia para o mais difícil teste de Deus. Jacó roubou a progenitura ao irmão e foi abençoado primeiro. Receio que o Antoninho tenha feito o mesmo para sacar todo o talento, até o que devia restar para o irmão. Pelo menos o mano Júlio teve a aparência física do Baza-Baza. E que a idade já não perdoa para o mano Júlio e, por conta disso, não teve nenhuma participação no disco. Já, o Antoninho aparece como compositor e trompetista.

  1. Muzila

É conhecido por muitos nos circuitos de jazz. Faz parte da geração dos músicos que andam tocando muito na cidade das acácias. Ghorwane perdeu Zeca. Depois experimentou Morreira, Muzila, Karen e Pedro Rijo. Dos 4, apenas os dois últimos gravaram os discos Kudumba e Vana Va Ndota, respectivamente. Entretanto, só em 2010 que Ghorwane teve um menino que se encaixou na banda, compositor e que gosta de encarnar Pedro Langa. Tem razão Muzila. Ele consegue trazer de volta o Pedro. Ele representa o futuro da banda.

  1. Sheila Jesuíta

Flash, Ardiles, Cheny wa Gune e a Sheila representam a ruptura com um passado de conservadorismo da banda. Começou se a piscar olho à novas gerações. Estes jovens podem ser usados como os continuadores dos sonhos dos Ghorwane, mas, há que perceber que eles entram na história como aqueles que também impõem a sua forma peculiar de estar na música. Ardiles mete pandza, Flash rep, wa Gune traz timbila e a Sheila é apenas a primeira mulher a fazer parte desta banda. A disciplina vocal dela, a qualidade harmónica que ela traz nos coros ajuda a engrandecer este álbum. O dueto com Muzila em amor e fogo são o clímax de uma participação que esteve sempre preparada desde que ela nasceu Chibuto, lá donde vem o nome da banda e do fundador. Pura coincidência. Andou pela escola de música, aprendeu a tocar flauta, passou pela Majescoral, contribuiu em Vuka Africa e Vumela da Mingas, teve uma participação em Nkuvu de Stewart, floreou Massone de Carlos Gove na música Ubemba, mas na verdade, ela esperava por uma grande banda, onde toda a loucura dela, talento, extroversão, fossem explorados e significassem o vincar de uma banda. A Sheila podia ter feito umas musiquinhas para um consumo instantâneo, mas preferiu queimar etapas, aprendendo com os grandes. Ela não é uma back vocal de luxo apenas. È uma artista de mão cheia e a entrada na banda obrigou-a a recuperar a flauta que já andava enferrujada algures no quarto do pequeno Akeem.

  1. Convidados

Talvez dizer parabéns a toda equipa. Dodó em grande e toca com alma aquela introdução da música ferido regresso. Simplesmente espiritual. Os convidados estrangeiros de Kassav fizeram o que sai tão natural quanto o respirar de um individuo saudável. Aqueles assopros bem metálicos são de grande mestria; Stélio Zoe é enorme e com ele a banda tem Groove a dobrar; obrigado Childo Tomás, uma espécie de Nkulu wa munu na música moçambicana.

  1. Zé Pires

Este mulato (risos) tem uma paixão pela música, pela engenharia do som, ele ama a música moçambicana e gosta do que faz. Ele faz este pessoal acreditar que já não é assim tão necessário atravessar oceanos para gravar. Um trabalho bem feito, alta qualidade do som e, acima de tudo, como produtor está-se revelando perspicaz ao aproveitar todos os nomes sonantes para contribuir no disco. Parabéns Zé Pires, continue sonhando com a tua indústria de som que estás mais para a materialização do que para ilusão.

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