Estávamos na praia. O calor arreliava e a cerveja era a melhor invenção do mundo (vencia até a dinamite). De repente, surgiram de nenhures dois rapazitos magros, com um cãozinho da cor dos sargaços e também ao osso. O rapaz mais alto aproximou-se. Tinha a camisa desabotoada e o peito pálido. Os olhos estavam famintos mas mostrava a decisão de um rufia.
Não quer comprar cão, boss?
De que raça é, perguntei.
É mistura! Não está a ver as orelhas? É de uma raça que cresce maningue. Se comer bem, será gordo como Deus.
Deus é gordo, devolvi, surpreso.
Deve ser. Deus manda em tudo. Não Lhe falta comida.
Os meus dois amigos, que assistiam à venda, puseram-se a rir.
Está bem, disse eu. Regateei o preço e comprei o cãozinho. Os dois rapazitos saíram a correr, felizes. Eu lembrei-me do Pedro Bala e os rapazes do Capitães de Areia.
Como irás chamá-lo, perguntou-me o Calado, um dos meus amigos, que se encharcava de cerveja.
A gozar, baptizei o bichano de “Silêncio”, porque supus que ele seria gordo como a barriga do Calado (e não como deus).
O tempo correu e o animal cresceu. E até hoje, Silêncio jamais ladrou.