Estou a escrever com a caneta. Há muito tempo que não escrevo meus textos com caneta. Escrevo directamente no computador. É mais prático. Tomo notas mentalmente.
É domingo, estou na cama, não trabalho, estou sem carga, não há energia. A EDM gosta muito do meu bairro, por bondade decidiu tornar nossas manhãs mais interactivas. As pessoas finalmente conversam. Os distraídos, como eu, não carregaram os celulares de noite e hoje não podem entrar nas redes sociais, o que é bom. Vamos conversar com pessoas reais.
Odeio a EDM. Estaria a escrever o texto no computador, mas tenho de rabiscar no papel, esperar pela energia para depois transcrever no PC. Estou com dores de cabeça. Estou a pensar demais, meus cães, meus 29 cães.
Faço um rabisco no papel. Percebo que já não tenho nada por escrever. Então páro. Olho para minha caligrafia: escrevo a despachar, as letras são tão feias, grossas, espaçosas. Pego a caneta com raiva, aponta dos meus dedos até dói. Já estou a escrever a um bom tempo. Melhor parar. Tenho que brincar com o meu cão, o Caleg, que, nestes dias, me obriga a ficar horas a fio a exercitar a terapia de não pensar em nada.
Reflicto. Analiso minha vida, pego uma bola e lanço. Caleg corre e pega. Volta e entrega-me. Repito o exercício mais de 20 vezes. Canso, entro em pânico por saber que poderia estar a terminar tarefas, mas a EDM é boa connosco.
O cão vem com a bolinha. Penso em entregar-lhe a bola, pois preciso relaxar. Queria eu estar a correr atrás da bola e entregar ao meu dono, assim, talvez, esqueceria de que estou com dores de cabeça e sem energia em casa.