A última memória com Chico António

Restos mortais de Chico António, falecido no último fim-de-semana, vão a cremação amanhã ás 13 horas, na sequência de um velório no Paços do Conselho Municipal da Cidade de Maputo que irá iniciar as 9.

O destino final da exéquias fúnebres do compositor de “Baila Maria” será o Crematório Hindu no Cemitério de Lhanguene, na cidade de Maputo que o acolheu ainda na infância chegado da fuga iniciada em Magude pelo medo do castigo que o pai o aplicaria pela perda de gado que estavão sob o seu pasto.

Na sexta-feira começaram a circular mensagens nos grupos de Whatsaap indicando que Chico António tinha entrado na noite anterior na Sala de Emergências e que o seu estado tendia a piorar sem que houvesse ainda diagnóstico.

Pensava-se tratar-se de uma obstrução, pois o seu abdomen estava a inchar sem cessar. Não obstante quando a notícia da sua morte foi tornada pública na manhã de sábado foi uma comoção generalizada.

De diferentes actores da esfera pública sairam mensagens de pesar. “A tua música também fortaleceu a nossa identidade, e o nosso orgulho de sermos moçambicanos. Viverás eternamente na nossa memória”, lê-se na página do Facebook de Armando Emilio Guebuza, ex-presidente da República.

Otília Aquino, animadora cultural, curadora do pavilhão de Moçambique em mais de uma expo internacional, lamentou, no grupo de Whatsaap composto essencialmente por fazedores das artes e cultura a vários níveis a partida do seu amigo, numa relação que duravam já 36 anos.

“Rendo-me a ti, à tua forma louca, à tua criatividade sem igual, à serenidade”, partilhou, antes de na mesma plataforma Cremildo Bahule, linguista que tem estado a fazer a coordenação editorial de Songbooks de músicos consagrados moçambicanos, num projecto dos TP50, ter lamentado que “infelizmente o principal autor/actor [do Song book de Chico] não poderá testemunhar”.

No seu fio, Bahule observa que ficarão as recordações do projecto Trânsito, o álbum “Memórias”, ao que acrescentamos a rumaria pelo projecto Maputo Electrónico, Orquestra Marrabenta Star e Grupo RM.

Chico António foi um dos músicos e compositores moçambicanos mais experimentais e poeta do quotidiano mais consagrados do país que nunca se permitiu envelhecer, no qual a ideia do “Forever young” brotava em abundância.

Superação de Chico

Nascido, em 1958, em Magude, distrito da província de Maputo, mudou-se na actual Maputo aos seis anos. Inicialmente nas ruas, não tendo outra opção na sequência da fuga da pastoricia de 50 bois, 30 cabritos e 10 ovelhas.

Essa fase da sua, observa a Voz de América, infância é retratada na canção João Gala Gala, do seu único disco, “Memórias”. Nela, Chico canta: “Joao Gala Gala, idade escolar, está pedindo esmola no ponto final, todos os dias são iguais, faça frio, faça calor, faça chuva, faça sol (…) o futuro do João Sofrimento não passará duma tosca palhota (…) a não ser que venha o vento sul trazer-lhe uma varinha mágica para não ser vagabundo…”

Em 1964, o casal José Ferreira dos Santos e Lili Ferreira adopta-o e o matricula no internato da Missão São João de Lhanguene, da Igreja Católica, onde cumpriu o nível primário e aprendeu com êsito a tocar trompete e solfejo.

Em entrevista a Voz de América contou que aprendeu música na Igreja Católica. “Fora da igreja, as minhas referências foram Xidiminguana, Wazimbo, Alberto Machavela, Osibisa, Fela Kuti, Third World, Jimmy Cliff, Manu Dibango, Sting, Uriah Heep, Led Zeppelin, The Police, Yes, Alice Cooper, entre outros.”

Chico António subiu em palcos de Cabo-Verde, Guiné Conacry, Zimbabwe, Dinamarca, França, Holanda, Inglaterra, Italia, Portugal, Suécia e Noruega, entre outros, enquanto um dos mísocos mais interncionais do país.

“Baila Maria”, sua letra e composição para a qual convida Mingas para o dueto. Em 1990, o tema conquista o grande prémio do concurso Descobertas, da Rádio França Internacional. No mesmo ano e na sequência do prémio, Chico vai a Paris aprofundar estudos em música.

“Na França”, conta na entrevista a Vpz de América, “tive como tutor o grande saxofonista camaronês Manu Dibango. Tive aulas de técnicas de base de piano, arranjos musicais e gravação musical”.

Conviveu, nesse contexto, com personalidades como Salif Keita ou Pierre Bianchi. Descreve esse periodo como de formação intensiva e no final senti-me glorioso. “O veterano saxofonista sempre aconselhou-me a concluir os estudos e regressar ao país para pesquisar e elevar os ritmos tradicionais de Moçambique.”

É nessa altura que grava e lança em Paris o álbum “Cineta” com o grupo que fundo ao qual baptizou com o nome de Amoya. Seu segundo e último disco gravado é “Memórias”, de 2014.

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