Por: Pedro Pereira Lopes
Depois que Adão e Eva foram despejados do Jardim, a serpente, o pai da mentira, ficou ainda mais frustrada. O casal andava em nova vida e esbanjava felicidade; e, no Jardim, os animais desfrutavam da santa ignorância. E era tudo muitíssimo belo.
Tinha como o génio das trevas não andar fulo da vida? Depois de matutar por dois dias, vai assim a serpente maldita para o leão, que acabava de puxar o lustro à sua admirável juba:
Ó, irmão, agora que os homens se foram, quem cuidará do jardim? Quem dará nome às coisas?
Os anjos, disse o leão, na maior preguiça, despreocupado.
Não me parece, respeitável felino. Os anjos têm sempre mil e uma tarefas por atender. Ouvi dizer que o elefante ensaia um Golpe de Estado.
O leão mal sabia o que era um Golpe de Estado, mas a serpente, sempre muito prestativa, fez questão de explicar-lhe. E ficou, então, o gato de juba bastante zangado, porque depois de Adão, ele era a criatura mais competente para governar, fez-lhe acreditar a irmã. Enquanto o leão reunia os seus sequazes, ao elefante era contada a versão inversa da história. E ficou ele também bastante furioso.
Oferecendo-se como mediadora, a serpente marcou um conselho, no centro do Jardim, onde estava a Árvore. Separados em dois grupos, os animais gritavam. Então disse a serpente:
Será o líder do Jardim aquele que for sábio.
Daí disse o leão:
Eu sou sábio. Vejam a minha juba como reluz!
Sim, disse a serpente, a sabedoria brilha no escuro, mas só é sábio aquele que comeu da Árvore do Conhecimento.
Enquanto o diabo esfregava um olho, o elefante abraçou a Árvore e abanou-a. Caíram-lhe as frutas, todas elas, e comeram-nas os animais, todos eles. E ficaram todos muito sábios ao ponto de descobrirem que tinham sido enganados. Como os homens, também eles, os animais, foram expulsos do Jardim.
Depois ficou outra vez aborrecida a serpente, porque tinha provido carne aos homens.
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