Por Dadivo José
Os anos de furacão deveriam ser 10, sendo que 2004, de Janeiro a Junho seria o período para ver o declínio da saúde dela e com direito a especulação sobre a morte dela. Sim, ali naquele leito de hospital central de Maputo, a Zaida teve duas mortes.
A primeira que não era a verdadeira aconteceu em Abril. Era um falso alarme que se tornaria real um mês e meio depois.
Sabia ela que não seria fácil. O “Kiribo” ou “Kurufela” escandalizou e mostrava uma Zaida capaz de desafiar. Tinha o apoio do marido e “kurufelou” mostrando calcinhas. A propagação da imagem não era rápida como hoje.
Enquanto os poucos reclamavam a performance dela, uns ouviam o que ela falava naquela voz mandona dela, que ate abafava os instrumentos. Sim, a Zaida devia ser daquelas moças puras, genuínas, que dizia o que pensava, sem se interessar com os conservadores.
A dicção dela, a expressividade dela, sugere uma machangana grossa que estava ali para chamar atenção a sociedade sobre a pedofilia. Para Zaida não era justo que homens grandes, com famílias, andassem por ai com as catorzinhas. Enquanto o povo reclamava a musicalidade dela, já mandava “Zabelani”, mais uma crítica para as mulheres que gostam de vida fácil.
Em 1994/5, o povo começa aceitar esta menina, tal como ela era e, acima de tudo, se revia na crítica que ela levantava. Com ela crescia a banda de Carlos Hlongo, que já começa a arrastar o povo para as suas actuações, para ver o que faltava a banda durante anos: Uma voz feminina no corpo de uma trepidante bailarina, como a Gloria Muainga chegou a apelidá-la.
Lembro-me e muito bem, de uma das actuações que ela apareceu coxeando, mas quando chegou a vez de partir e “kurufelar”, mostrou que estava ali para acontecer e que o resto seria resolvido em casa, no aconchego do seu lar com o Carlos Hlongo, que inventou esta musa para os apreciadores da música moçambicana.
(continua)