Ku kavata: Uma ruptura e passagem de testemunho  (2)

Por: Dadivo Jose Litsecuane Combane

Ao quarto álbum, nos 32 anos de existência dos Ghorwane, algumas das imagens de marca da banda começam a cumprir com um imperativo existencial. O álbum ku kavata testemunha a vontade que os membros fundadores, restantes, da banda, têm de se libertar dela, assumindo que qualquer dia terão feito história, mas esta não deixará de continuar. Quando escutamos e olhamos para o alinhamento das músicas, há aqui novidade no velho. Explicando melhor, das 11 faixas que compõem o disco, 5 são recriações. Das 5 recriações, 4 são da autoria de Pedro Langa e uma, de Zeca Alage. 6 Constituem o que não tinha sido gravado antes. Mas o que é este disco? Vamos tentar analisar faixa por faixa.

  1. A primeira faixa não passa de uma pequena introdução de quase 2 minutos, que durante alguns anos foi usada como uma música para saudar o público nos grandes palcos por onde se apresentavam os Ghorwane. As vozes exaltam as maravilhas da lagoa que nunca seca, os sons naturais levam a nossa imaginação para aquele universo chibutense. Eu quero acreditar que um dia vamos ouvir uma grande composição musical a partir desta introdução.

Carlitos Gove 2

  1. A segunda faixa, com o título Wa vitika, é de autoria de Pedro Langa. Em alguns espectáculos da banda, nos anos 2000, Pedro entoou esta canção, que exalta o sofrimento de um Muchangana, cuja vida anda torta. O dinheiro lhe escorrega nas mãos e os livros só lhe provocam dores de cabeça. Em resposta sugere-se que vá a casa invocar os seus antepassados, sedentos de missas. Pedro Langa mostra o sentido que nós as pessoas, comunidade, país e mundo, devemos sempre ter para resolver os nossos problemas. Parece que estamos a ser castigados, mas, na verdade, tudo que precisamos é procurar a origem dos problemas para resolver. Não adianta saltar etapas e construir castelos de areia, porque um dia seremos obrigados a responder por todos acordos despachados no passado. As paridades exigidas na administração eleitoral, as autarquias provinciais e mais outras revindicações, são resultados de decisões mal tomadas no passado. Teremos mais missões por resolver e mais rancores guardados nos nossos corações. A maneira como este país sonambula de olhos abertos é agressivo, parece que o pecado foi tão descarado, como matar alguém e carregar o cadáver aos olhos sofredores das viúvas e órfãos.

Este hino tem ritmo muthimba, que os membros da banda souberam respeitar na nova gravação, tal como a letra original. Há que destacar um craquismo na execução e nas variações. Uma versatilidade agradavel de se ouvir.

  1. A Terceira é hafo, um grito de Socorro de Chitsondzo por causa da criminalidade no país. Pobreza, miséria e sofrimento, uma combinação terrível para um povo que já viu um pouco de tudo. Estes criminosos não olham para quem nada tem. Eles chegam e levam tudo. Quem são estes criminosos? São alguns que puxam este país sempre para trás, porque os seus actos não são construtivos. Atenção, Chitsondzo fala de todos eles, desde os criminosos de armas e violadores, até os estudiosos de fatos que em nome do povo e do poder, saqueiam tudo e paga o cidadão honesto com impostos e preços especulados no inferno. Estes indivíduos, quando chegam a tua casa, na tua conta bancária, no teu local de trabalho, ainda que estrebuche de que jeito, eles irão fazer valer a sua força para usurpar tudo que eles querem e como se não bastasse, ainda tiram-nos a vida. Isto é como um libertar de fezes características de um tipo que se alimentou do nada, na hora de defecar só tira agua, tão é a nossa pobreza. Quem tira água pelo ânus, já se desidratou e nada mais tem como reserva, quão o nosso banco todo falido, saqueado e cavado.

Este hit tem uma batida Groove que te põe a dançar, com aquele cheirinho da marrabenta que o Chitsondzo sabe bem-fazer, aliado a melancolia da voz dele, a condizer com o lado dramático da sátira.

 

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