Nem uma crónica sobre o Rio de Janeiro (I)

Meus olhos estão vermelhos, estou há quase dois dias sem dormir. Me estatelei em dois assentos de avião, senti a turbulência de estar longe de casa, meus ombros doem, sinto a pressão de estar a representar um país. Peguei a bagagem no Aeroporto de Guarulhos, olhei para os meus sapatos firmes no chão, entrei no Google Map, que me elucidou sobre a localização: São Paulo. Não era o destino final, o voo para o Rio de Janeiro levaria menos de uma hora. 

Entrei no terceiro avião com fome, não consegui comprar algo para comer no aeroporto, mas fiquei tranquilo, existem outras fomes que roem mais. A aeromoça deu-me água, um biscoito minúsculo, que degustei em 5 minutos. Quando estávamos para aterrar,o comandante deu-me a temperatura, 23 graus, chuviscos. Agradeci, pois não comprei calções, mas ao mesmo tempo fiquei chateado, porque meus pés descalços queriam tocar a areia da praia de Copa Cabana. 

No Aeroporto do Rio de Janeiro vi meu nome. Miguel Viera, o responsável por me levar ao hotel tirou-me uma foto, colocou-me no carro e ofereceu algumas porções de simpatia que saciaram a fome, por 90 minutos esqueci que meu estômago estava a roer. 

No Uber, a motorista, que era do PT, trazia cenários de espectativas que o país vive, a espera da eleição. Sem respirar fundo, a senhora de cabelos grisalhos falava da intolerância, dos retrocessos patrocinados pelo regime que lidera o Brasil. Pensei em comentar, mas meu corpo cansado isolou-me num canto do carro e de vez em vez fechava os meus olhos, me impedindo de apreciar a cidade maravilhosa. Saímos da política, graças a Deus, prefiro não avançar com posições perentórias sobre, apenas analiso e mantenho os lábios colados, pois sou um estrangeiro, que mal fez a mala, está a quase dois dias sem molhar o corpo com água. 

Entrei no hotel, depois do primeiro banho, o Sérgio mostrou-me um local para comer. Sentei à mesa, pedi um frango, que veio com feijão preto, batata frita, farofa e para beber um guaraná. Meu paladar estava estranho, comi rápido pela fome, terminei o guaraná, com ansia de provar uma caipirinha ou uma cerveja brasileira. 

Dei o primeiro gole, senti que a cerveja era aguada, recordei-me com nostalgia da 2M. Recebi um tiro de caipirinha, fiquei tonto, olhei para o relógio, subi no hotel e dormi. Hoje é o quarto ou quinto dia no Brasil, a única coisa que estou consciente é que ainda não sentei para escrever.

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