“O Bebedor de Horizontes” poderá ser brindado com whisky caso vença em Dublin

Mia Couto entra na lista do Prémio Literário de Dublin com a tradução de David Brookshaw para inglês de “O Bebedor de Horizontes”, terceiro livro da trilogia “As Areias do Imperador”, cuja edição francesa lhe valeu o prémio Jan Michalski, conforme anunciado há dias.

O livro do escritor moçambicano foi indicado pela Biblioteca Nacional de Moçambique para este galardão que anualmente lareia uma novela escrita ou traduzida para o inglês com o objectivo de promover a excelência na literatura mundial e é patrocinado pela cidade de Dublin, na Irlanda.

“O Bebedor de Horizontes” que encerra a trilogia traz o último monarca da dinastia Dlamini no Império de Gaza como um individuo contraditório a residir em paradoxos. Ele é forte num momento e fraco noutro. A estória vai da detenção de Ngungunhane, em Dezembro de 1895, em Chaimite, e a posterior viagem na embarcação, de Moçambique até Lisboa e mais tarde à Ilha dos Açores.

Nessa viagem fez-se acompanhar por três das suas mais de 200 esposas, o filho Godido, o tio e conselheiro Mulungo e o seu cozinheiro Ngó. O chefe dos Mpfumos, Nwamatibjane Zixaxa é, igualmente, enviado ao exílio com a corte de Gaza.

O investimento lusitano nessa jornada era exibir o imperador como troféu para a Europa, uma vez que o Império de Gaza era considerado um dos maiores de África na sua época.

Durante o percurso, no meio do mar, como auto-consolo, Ngugunhane, às vezes, se iludia com a ideia de que, na verdade, a viagem resultava de uma combinação sua com o Rei de Portugal sem que os outros soubessem de tal agenda. Nesses devaneios ignorava a derrota liderada por Mouzinho de Albuquerque.

“Zixaxa”, situa Mia Couto, na entrevista que publicamos no “Mbenga” na data de lançamento do livro, “ganha (no romance) outra dimensão, quando o imperador se deixa humilhar, ele consegue ser mais digno”.

Já em solos lusitanos, o imperador, como faz questão de frisar o escritor, que era inteligente. Ganha consciência de que a sua estada em Açores foi, provavelmente, o que salvou-lhe a vida, uma vez que, em Gaza, depois da derrocada, estaria exposto aos conflitos, traições e golpes para a sucessão do trono, por parte dos seus, ou mesmo, vindo dos portugueses.

Em algum momento, ao que se depreende, conformou-se com o seu destino. Mas as perturbações nos seus pensamentos nunca deixaram de existir. Para espairecer, talvez, uma vez que não foi jogado para as masmorras de um calabouço, caçava coelhos, que depois vendia.

Para além de Mia Couto, os escritores brasileiros Itamar Vieira Júnior e Stênio Gardel estão igualmente entre os 70 nomeados para o Prémio Literário de Dublin cujo vencedor receberá um valor monetário de 100 mil euros, que é classificado como o maior montante atribuído a um livro de ficção publicado em inglês num dado ano.

Se o livro for traduzido, o autor recebe 75 mil euros e o tradutor os restantes 25 mil. A lista supracitada inclui 31 obras traduzidas e 16 romancistas estreantes, de acordo com o comunicado da organização, a cargo do município de Dublin.

O passo seguinte do prémio é a definição da lista de finalistas, que vai ser revelada no dia 26 de março. O júri vai ser presidido pelo professor universitário Chris Morash e composto por Lucy Collins, Daniel Medin, Ingunn Snædal, Anton Hur e Irenosen Okojie.

O livro vencedor é anunciado pelo presidente da Câmara de Dublin, Daithí de Róiste, no dia 23 de maio, no âmbito do festival literário da cidade.

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