Chico António: um humanista smiling forever 

Sempre sorridente, amigo e humilde, é como foi descrito Chico António na manhã de ontem no Paços do Conselho Municipal de Maputo no velório oficial que contou com a presença da família, amigos, admiradores e alguns membros do governo.

Antes de seguir ao Crematório Hindu do Cemitério de Lhanguene para a cremação às 13h00, a última despedida aconteceu naquela sala nobre do Municipio de Maputo, onde foram lidas mensagens fúnebres e partilhou-se memórias das vivências com o compositor de “Baila Maria”.

Foi nesse contexto que soubemos que ele estava a construir uma escola de música no distrito da Manhiça e que estava já a trabalhar num novo álbum com as gravações marcadas para o estúdio de Zé Pires.

Na ocasião, Izidine Faquirá, locutor da lendária voz do Izi Jazz da Rádio Moçambique, em entrevista ao “Notícias”, lamentou a a morte de um dos grandes nomes da música mocambicana. Recordou que esteve com Chico António desde que entrou para a RM em 1983.

Trouxe a superficie a música “A História de João Gala-Gala”, dedicada ao menino de rua que foi, para esclarecer que o finado replicava a sua forma de estar, ou seja, a música e educação nas suas composições.

“Chico António foi um dos músico que deu mais juventude à banda RM, aliás, o ‘Baila Maria’ ganhou o prémio para a banda, para o país no concurso da Radio France Internacional (RFI), com a inovação que ele fez nessa obra, ao trazer um disco em dueto com Mingas”, disse ao “Notícias”.

Esses, prosseguiu, são os marcos de Chico António, que mesmo a solo continuou com diversos projectos, abrindo espaço para vários artistas. Estava a prepar o seu álbum, curiosamente com gravações marcadas para este mês, e a criação de uma escola de música na Manhiça.

“Como forma de preservar esta história devemos lutar para que nasça essa escola de música, colocando o seu disco, mesmo com outras vozes, outros instrumentistas a tocar, recriando e reaprendendo com aquilo que o Chico fez”, disse ainda.

Tomás Vieira Mário, amigo do músico com quem partilhou vivências durante mais de trinta anos, contou sobre a disponibilidade do autor do álbum “Memórias” para prestar apoio aos amigos o que, facilmente, o tornou família de muitos dos que lhe eram próximos.

“O que podemos fazer é divulgar o máximo possível a sua produção musical”, disse o intelectual conhecido pela sua carreira no jornalismo. Ainda descreveu Chico António como “um humanista sempre alegre, uma pessoa rara, com uma história muito sofrida”.

As mazelas da vida, entretanto, continuou Tomás Vieira Mário, não impediram o músico que ele classifica como profundo, intelectual, não necessariamente comercial, de dar a volta por cima. O que faz dele, afirma o comentador de televisão, “um modelo de que do nada é possível”.

Chico António, morreu aos 66 anos, no sábado, 13 de Janeiro, vítima de doença, no Hospital Central de Maputo.

Aos nove anos torna-se solista, aprende trompete e solfejo. Fez parte dos grupos “RM” e “Orquestra Star de Moçambique”. Em 1990, ganha o prémio Radio França Internacional com a música “Baila Maria”, num dueto com a cantora Mingas.

Lançou, em 2014, o álbum “Memórias”. Participou em tournées pela Europa e África e tornou-se um colaborador regular de música para documentários, filmes, vídeos e peças de teatro.

Leave a Comment

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

Scroll to Top