Cada quadro é uma conquista – Cristóvão Jr.

Está vestido de preto, sua cor favorita. As rastas, ainda em desenvolvimento, e o andar optimista revelam as raízes Rastafári firmes na sua consciência e estilo de vida.

Cristóvão Jr. (artista plástico, 27 anos) pinta de forma espontânea, baseado em Chimoio (Manica), onde nasceu, cresceu e desenvolve a sua arte. É um homem confiante e acredita que o universo conspira a favor das boas acções e do amor ao próximo.

Abriu-nos as portas da “Cristóvão Jr. Art Studio”, galeria, atelier e estúdio no qual produz e expõe os seus trabalhos, na Cidade de Chimoio (Manica), espaço onde decorre a conversa. O local é repleto de telas penduradas, outras simplesmente encostadas, à uma parede branca e outra preta, frente a frente, iluminadas por duas filas de luzes a baloiçar numa barra de metal pregada ao teto.

Entre o pontilhismo, acrílico, colagem, entre outras técnicas, os trabalhos, na sua maioria, exploram rostos, nas suas mais variadas expressões.

“Tudo começa dentro de mim: do meu amago para a superfície”, remata. “Tento levar para a tela algumas peças ou imagens que realmente expressem os meus sentimentos”, explica o artista e detalha que, de certa forma, procura transmitir emoções, com os seus quadros.

A paz e a tranquilidade, prossegue, são os ingredientes indispensáveis no seu processo criativo, até porque são estes os sentimentos que procura expressar, como artista.

“Por exemplo, não consigo pintar num local desorganizado. Gosto de tranquilidade e organização, porque levo muito tempo a pensar, mas a execução é rápida.”

Na infância, costumava desenhar na areia, isolado de tudo e de todos, mas depois passou a estampar a sua imaginação no papel, ocupando páginas dos mesmos cadernos que usava na escola.

“Fazia os meus desenhos em todo o quintal, na areia, e não queria que as pessoas pisassem, porque achava aquilo uma maravilha”, conta Cristóvão Jr, a recordar que “fui praticando também nos cadernos e ganhando o interesse de levar os meus trabalhos para a tela”.

Com a prática, também foi ganhando a convicção de que a arte era o caminho certo a seguir e decidiu passar a desenhar em telas, além do papel, instruído pelo artista plástico, Lano (em memória). Sob os cuidados do mestre, desenvolveu habilidades, amealhou conhecimentos e iniciou uma carreira que segue firme há já catorze anos.
“Ele era um grande artista. Ele fazia inúmeras obras, com inúmeras técnicas. Fazia vasos, fazia abstractos, fazia realismo, fazia cubismo, fazia escultura, mexia com gesso, com areia… Enfim, fazia muita coisa que eu, infelizmente, não consegui aprender tudo”, lamenta.

Com o que aprendeu do mestre, produziu os seus primeiros quadros e profissionalizou-se. Passou a expor regularmente (entre individuais e colectivas) e, também, passou a colecionar realizações no seu percurso.

“Vendi o meu primeiro quadro a noventa meticais. Fiz uma obra com gesso e barro e coloquei na rua da minha casa. Apareceu alguém, interessou-se e comprou a obra e, com o tempo, foi comprando mais obras minhas”, conta.

O volume de vendas em alta, aumentou também o volume de produção e ampliou-se o horizonte. Gera receitas e, actualmente, tem na arte a principal fonte de renda. Mais tarde, Cristóvão Jr. decidiu aventurar-se, sonhar alto, produzir exposições e enriquecer o portfólio. “Cada quadro é uma conquista”, assegura!

Mucai

Do Chiuté, língua predominante da zona centro do país, “Mucai” significa “acorda/levanta”. Com o conceito, Cristóvão Jr. criou uma exposição, com a qual pretendia transmitir a mensagem de esperança e resiliência, para incentivar pensamentos e atitudes positivas como pilares para a edificação de um mundo melhor.

A mostra – que esteve aberta em 2019, numa das salas de um edifício que, segundo a VOA, pertence à empresa Vista Construções – era uma fusão de técnicas e esboços, que cruzava o surrealismo e o cubismo para trazer à superfície a necessidade do consumo da arte e a partilha da mensagem que o artista procura transmitir através dela.

“Esta foi a exposição que mais me marcou, de todas. Em Chimoio, acredita-se que terá sido a maior exposição individual feita cá (em Chimoio), nos últimos dez anos”, revela.

De exposição, Mucai tornou-se numa Filosofia. Um estilo de vida que orienta todo um processo e o modo de agir de Cristóvão Jr. além da arte. Ao leque de exposições individuais, o artista junta “Pontos” (2022), “Feelings”, “Revelação” (2022) e várias colectivas, com destaque para a participação na Semana Africana (2019), no Museu Nacional de Artes, em Maputo, e, recentemente, a participação no Workshop voltado à temática da Paz, promovido, em Chimoio, pela Associação IVERCA e dirigido pelo artista multidisciplinar, Shot B.

“Foi espectacular. Eu nunca tinha participado num evento do género e estar lá (em Maputo), com outros artistas, foi gratificante”, encerra.

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