“O Descalço [dos] Murmúrios” e “Incêndios à Margem do Sono” – dois livros de inventários de angústias e elegias poéticas

“O Descalço [dos] Murmúrios” e “Incêndios à Margem do Sono”, de Gibson João e Óscar Fanheiro, respectivamente, são duas poesias de elegia, com possibilidades e impossibilidades de angústia e abismos.

À mínima temperatura da noite de ontem que acompanhou o lançamento dos livros que compõem gritos de sofrimento de seus sujeitos poéticos, o evento, mercê da 5ª edição do prémio Literário Fernando Leite Couto, consagrou Gibson e Óscar a autores e ambos, sentiram em mãos, pela primeira vez, o calor do papel que continha palavras escritas por eles mesmo.

O evento, que iniciou às 18h, teve as cadeiras todas lotadas, afinal, pretendia-se testemunhar de perto como é “O Descalço [dos] Murmúrios” e, talvez, acender e/ou apagar os “Incêndios à Margem do Sono”.

Eis que surgiu Arnaldo Manhice, na companhia da sua guitarra. Tomou o pódio, com o intuito de animar a noite e soltou a voz, fazendo o público vibrar, afinal de contas, dois bebés nasciam e estariam à disposição do mundo.

Para familiarizar o público com os escritos dos autores, Matilde Uelissene descalçou-se do frio e incendiou o espaço da Fundação Fernando Leite Couto. Leu, primeiro, Gibson João em, “O bolo da casa”, mas não houve murmúrio, todos pareciam querer saber como é que a casa acorda. Depois leu Óscar Fanheiro em “Blackout” e ninguém esteve à margem do sono.

Coube, então, ao jornalista e crítico literário, José dos Remédios fazer a apresentação dos livros. Mas, antes, ele quis saber, “Por que os sujeitos poéticos, de Gibson João são tão desassossegados? Naquela característica de Fernando Pessoa e Bernardo Soares em que projecta a poesia, em seu espaço de pertença ou do espaço em que pertence, a partir daí, a poesia vai ganhar movimento e a possibilidade de chegar a outros lugares, inclusive ao nosso próprio imaginário.”

Ao livro do Fanheiro, dos Remédios disse que, ao ler, lembrou-se da Literatura moçambicana, publicada há mais de 100, o livro da Dor, de João Albazine “Pois a dor é a sensação que atravessa toda a escrita de Óscar Fanheiro. São mais de 100 páginas e a dor vai-se fazendo presente constantemente, como se, na dor também existisse a possibilidade de nós amarmos. A sua poesia não precisa dos termos amor ou amar, nós percebemos que ama e, sobretudo, que vai investindo nessa possibilidade de amar em relação à entidade que com se comunica.”

Com 6 cadernos, de 109 páginas, Óscar Fanheiro convenceu o júri e foi assim consagrado um dos vencedores desta 5ª edição, mas a sua escrita teve algumas interrupções: “Levei um ano para voltar a escrever e o que nasceu disto é o livro que temos agora. Leiam e descubram quais foram as circunstâncias que me levaram a escrever este livro.”

Já, Gibson João, que convenceu os membros do júri com três cadernos de 74 páginas, ateve-se a poetizar o seu discurso: “E se a casa não for só a casa, e o desespero é a cobertura, a resposta quando os pratos de calam, quando o terror é o berço dos rostos, quando a prematuridade fraternal é a causa. O que escutar, por mim, não sei, entretanto, gostaria que comprassem o livro e espero que não se arrependam desta compra e recomendem aos outros.”

Resta, aos dois novos e jovens escritores moçambicanos, a vigem a Portugal, em Outubro, para uma residência literária, no Município de Óbidos. No dia 12, na Câmara do Comércio Portugal-Moçambique, o livro será, também, lançado.

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