“ECOS”: Um documentário sobre o drama de mulheres reclusas 

Oito mulheres reclusas partilharam histórias de abusos, violações, crimes e arrependimentos no documentário “ECOS”, realizado por Gigliola Zacara e que teve a sua estreia ontem, no auditório do Centro Cultural Franco-Moçambicano (CCFM), em Maputo.
O filme, que levou cerca de 1h e foi exibido em duas sessões, retrata a história de mulheres reclusas no Estabelecimento Penitenciário Preventivo da Cidade de Maputo, conhecida como cadeia civil. Durante a infância, adolescência, juventude, elas sofreram violência baseada no género, o que ditou o seu comportamento no meio social, culminando com a prática de diversos crimes.
Segundo a realizadora, Gigliola Zacara, foram ouvidas um total de 28 mulheres, das quais, 23 deram o seu depoimento, mas oito histórias é que foram exibidas no documentário. As outras cinco mulheres ajudavam, internamente, nas actividades ocupacionais e outras três faziam a sensibilização para que as outras não desistissem de relatar as histórias dos abusos que sofriam, na maioria deles, sexuais, verbais, físicos, desde quando eram crianças.
“Não foi fácil conseguirmos autorização para filmar, por parte do Serviço Nacional Penitenciário e o consentimento das próprias reclusas para fazerem parte deste documentário”, sublinhou Gigliola, durante a sua intervenção e acrescentou. 
“Nós tínhamos noção de que não seria uma tarefa fácil, de ânimo leve. Recebemos muitos nãos, mas eu persisti em falar com elas até que convenci que fizessem parte deste filme”, adicionou.
As 23 mulheres que deram o seu depoimento são de nacionalidade moçambicana, sul-africana, portuguesa, queniana e outras.
Ao longo das gravações deste documentário, duas mulheres foram soltas e uma delas se fez presente na estreia de “ECOS”. Ela é de nacionalidade sul-africana e, durante o seu discurso, apontou a mudança da visão que tinha em relação a uma mulher reclusa já em liberdade. “Gigliola fez-nos sentir especiais. Hoje eu sei que tenho voz, posso dar a voz e posso contribuir.” Disse ela.
A voz da rapper moçambicana Iveth invadiu o auditório do CCFM, dando boas-vindas ao filme. A sala silenciou-se e as histórias começaram a ser contadas. A primeira reclusa, no documentário, disse: “Só gostaria de um dia voltar para casa, abraçar os meus filhos e pedir perdão.” Foi este o primeiro depoimento a ser ouvido pelo público e não tardou para se ouvirem choros – de mulheres e homens.
“O que eu vivi, os meus filhos não podem viver. Eu sofri imenso no meu casamento. O que o meu marido me fez, tinha a ver com ele. Estragou a minha vida, mas agradeço a Deus que me cuidou. Eu não sabia a quem dizer os meus problemas”, disse, no documentário, uma outra reclusa.
Foram histórias que emocionaram a cada um que esteve presente, tomando assim, uma nova visão da vida e do mundo. Para a estudante Marlen Dayse o filme chamou atenção sobre a importância da criação de crianças em um ambiente saudável. 
“Foi um filme que me impactou e me fez reflectir sobre a mulher na sociedade sovina. Sinto que mais mulheres, de diferentes quadrantes e posições sociais, devem assistir o documentário. Sendo pedagoga, a mudança que devo ou vou fazer é acompanhar as mudanças comportamentais dos meus alunos na sala de aula, cuidar da saúde mental e comportamental dos alunos, ainda em tenra idade”, disse.
Já, a estudante Filomena Matsinhe, que foi sem nenhuma expectativa, disse que saiu do auditório transformada. “Nunca havia visto histórias tão reais como aquelas. Pude perceber que as mulheres sofrem mais do que imaginamos. Sofrem todos os dias pelo simples facto de serem mulheres, mães, por serem pessoas com a dependência financeira. As mulheres ainda precisam ser consciencializadas”, afirmou ela.
Gigliola confessou que foi profundo ouvir aquelas histórias nos dias de gravação e durante a edição. 
“Senti-me um bocadinho transformada, na minha visão da vida, do mundo, das pessoas e espero com este trabalho transformar mentalidades das pessoas com a mensagem que o filme carrega, a intenção que o filme trás – colocar um não na Violência Baseada no Género.” Concluiu ela

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