Entre mim e o meu CV, quem roda mais?

Mais uma matinal, com fracos raios solares, visitou a minha janela, desta vez, dando boas vindas a mais um mês e, por sinal, o oitavo do ano. O relógio aponta para 8h32′ e o corpo ainda está espreguiçado na cama. Os pensamentos invadem-me em forma de nostalgia daquilo que ainda não se viveu e, imediatamente, corro os dedos para o meu smartphone, abro a agenda digital e procuro pelos planos traçados para o meu 2023.

Tudo está muito bem articulado, porém nada executado:

– Monografia; emprego; fonte extra de rendimento; treinar o meu inglês e não me apaixonar.

Literalmente tudo falhou, até o coração não soube calar. Sorri em resposta e concluí que, nunca antes havia, tão bem, executado o verbo “Meter” quanto neste presente agora.

Ignorei a ideia. Acessei o meu e-mail e notei que já me candidatei a tantas muitas vagas de emprego e agora inventei de namorar. É que, nunca se sabe o dia da sorte. Nos sites emprego vejo mais uma vaga disponível – para recepcionista em um hotel de luxo, no centro da cidade capital.

Decido, então, alfinetar-me e esquecer a preguiça. Tomei um banho rápido, preparei-me para, mais uma vez rodar em mais uma empresa e no final do dia, passar da casa de alguém que mais uma vez me tocará o corpo. Não sei se é o tempo actual, mas parece que os homens não têm sido mais honestos – cheios de promessas incumpríveis, mas eu vou lá tentar a sorte, nunca se sabe.

Trajei-me das minhas melhores roupas e saí para enfrentar o dilema do transporte.

– Esta vaga é minha. ˗ Disse eu, quando finalmente cheguei no tal luxuoso hotel.

Somos tão muitas meninas, para só uma vaga. Cada uma delas exibe o mais decotado vestido, efémeras saias, acompanhadas de finos sapatos. Trocamos impressões, até que uma delas deixou escapar a sua falcatrua:

– O dono deste hotel é amigo do meu pai.

Disse e, imediatamente nos silenciou. Matou a esperança que cada uma carregou de sua casa e manteve uma impecável postura ˗ ombros relaxados, como se já fosse parte dali.

Deixei o meu envelope e corri desesperada, pois sabia que, mais uma vez Meti os meus documentos para um nada futuro.

Dei voltas nas avenidas da capital e acabei chegando no jardim Tunduro. Quando a hora 18 chegou, fui a casa do outro fulano, este pelo menos, depois de meter, sabe contar histórias e fingir interesse, agora, o João e o António, fingem ter trabalhos depois da cópula.

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