Big Chronics: rapper que trilha o Cinema

Nos becos do bairro do Aeroporto os desenhos foram a folha de embarque de Big Chronics para as artes. Neles expressava tudo o que, tímido e sozinho, não podia dizer aos outros.

Quando, como acontecia nas periferias de Maputo e não só, começou, ainda na infância, a febre de fazer carrinhos de arame, a sua mestria o destacou dos vizinhos, que passaram a encomendar-lhe alguns. O que dava-lhe já alguma “mola”.

Foi na adolescência que descobriu, junto de colegas, o rap. Num primeiro momento sem pretenções de carreiras e coisas do tipo, apenas fazia freestyles nos intervalos das aulas, no ginásio da escola.

Pela persistência, continua no activo, tendo já lançado a EP “Novo Código Penal das Ruas”. Teve uma breve conversa para o programa “Conversas ao Meio-Dia”, produzido pela “Mbenga”. Segue abaixo o conteúdo desse “small talk”:

Quem era Big Chronics na infância?
Sempre fui um jovem que sempre viveu no seu canto, dificilmente me misturava com os outros e as minhas paixões sempre o foram futebol e arte. A arte tem me acompanhado desde pequenino, eu fazia desenhos artísticos, fazia carrinhos de arame, que até chegava a fazer por encomenda.

É nesse contexto que surge a paixão pela música?
A minha paixão pela música surge na escola secundária, com os amigos que fiz nessa altura. Mas não tinha nenhum contacto com o estúdio ainda, era só por diversão. Um dos meus colegas costumava nos juntar no ginásio da escola para jornadas de freestyle. Ele convida-me para formar uma tripla com ele mais um outro, Kelvi Delta.

Pelo que contas passaram-se ainda alguns anos até decidir ir ao estúdio e gravar a sua primeira música…

Em 2007 tivemos a ousadia de ir ao estúdio, fazer o nosso primeiro registo. Depois disso fui crescendo, fui despertando interesse cada vez mais.

Percebe-se nas tuas “barras”, uma preocupação com a mensagem que pretendes transmitir…como é que funciona a tua oficina?

Ao longo dos anos fui pesquisando os outros, como eles fazem e tudo mais. Fiz uma pesquisa e fui praticando o que via e apreciava. Outros  colegas meus desistiram do rap, acabei sozinho. Mas eu já estava muito envolvido nisto que já não me via a desistir, não fazia nenhum sentido para mim. Procurei por outros rappers no meu bairro e fui descobrindo alguns que eu nem sabia que estavam na causa. Lancei a proposta para que criássemos um movimento a nível do bairro do Aeroporto. Pelo menos a nível local teve um bom feadback e foi nesse movimento onde conheci o Sean Pablo, Nilton, Nylo, SP. Quando o movimento começou a desmoronar, entre nós, falo de eu Nylo e SP, criamos uma relação de amizade e muita proximidade.

Nessa altura já haviam faixas registadas?
Sim, gravei um álbum com o Nylo que contou a produção de SP

. Tentamos puxar a charrua. Puxamos até onde pudemos. O Nylo também desiste e novamente me vejo sozinho e desamparado (risos). Nesse momento eu perdi as forças e andava assim cabisbaixo sem direcção.

É de se preumir que foi nesse momento que decidiste abraçar outra careira profissional…

Foi um blackout apenas na parte da escrita, na composição de música, mas surge uma nova paixão que é o beatmaking, programação de instrumentais, também abracei essa área do beatmaking ou seja eu sou um artista multifacetado. Além da música, programação de instrumental Big Chronics é um cineasta de formação e essa é a minha profissão, infelizmente a música não é a minha profissão, é minha paixão. Em Moçambique sabemos qual é a realidade da música principalmente o estilo que eu faço.

Embora haja rappers a seguirem a solo, no país, boa parte vem de colectivos. E a cidade de Maputo é prenhe destes. Nunca surgiu um convite para te juntares a um?

Surge uma proposta de um dos membros seniores do coletivo Kapacetes Azuis, que é o Baba-X. Propôs-me que eu fizesse parte do colectivo Kapacetes Azuis ou seja uma extensão dos Kapacetes Azuis. K7s Style e eu aceitei, o que também ajudou-me a resgatar aquele feeling.
Mesmo estando nos K Seven nesse time, preferi seguir a minha carreira a solo, apenas usar o selo dos Kapacetes Azuis e tudo mais. O Baba-x concordou, dali criamos projectos, lancei a minha EP a solo que foi um sucesso pelo menos a nível do movimento Hip-Hop foi uma EP com um impacto muito positivo em 2016. Até hoje as pessoas estão sempre a felicitar-me, dão um feadback e o que é muito bom.

E os álbuns?

Já tenho “Novo Código Penal das Ruas”, tendo o primeiro saido sob chancela da solo records. Gravei nos estúdios Txaya Record, Money Talks e B Records.
As músicas estão disponíveis no meu canal de Youtube. E agradeço a quem deixe estar os seus cometários, que me vão ajudar a melhorar.

E 2024?
Voltar ao mercado nacional, voltar com o Hip Hop sério, lançar projectos e como cineasta também lançar meu projeto próprio, produzir muito mais, meus filmes próprios, projectar a minha música, meus sentimentos através da arte porque a arte transmite informações, emoções e educa a cima de tudo.

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