Sexo e issues que dão luz a passados por resolver

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Num fim de semana na casa à beira-mar de Brenda (Lunathi Mampofu), em Cape Town, Nandi Mahlati (Kgomotso Christopher), sua melhor amiga, se encanta por um jovem de físico atlético que aparentemente vai a praia dar um mergulho na praia que contemplam pela piscina. No cocktail party de tarde, casualmente, voltam a se encontrar e acabam amanhecendo na cama juntos depois de uma noite intensa de sexo.

Casada há 30 anos, Nandi vive uma crise na relação que, na verdade, é o motivo daquela visita a amiga. Passavam-se alguns meses desde que teve um aborto espontâneo – que daria o segundo fruto do casal que já tinha a Zinhle (Ngele Ramulondi) – pelo qual o seu esposo Leonard Mahlati (Thapelo Mokoena) a culpava, o que o distanciou. A instabilidade chega ao ápice quando ela lê uma mensagem da secretária do esposo, no iPhone dele, que interpreta como a prova de uma relação entre ambos.

Com os remorsos a pesa-la pelo affair do weekend, volta para casa as pressas. Na segunda, ao entrar para sala, onde dá aulas de Direito numa universidade sul-africana, lá está o Jacob (Príncipe Grootboom), sentado entre os estudantes. Aparentemente é parte da turma.

Estreiada a 7 de Julho de 2023 na Netflix, “Fatal Seduction”, série sul-africana na qual se desenrola o enredo acima descrito, é um remake do drama mexicano “Dark Desire”, que estreou no mesmo serviço de streaming em julho de 2020 e durou duas temporadas.

Facilmente o título pode remeter o filme “Fatal Attraction” – o clássico filme de 1987 recentemente reimaginado para a Paramount Plus. Entretanto, são obras distintas. É certo que se pode encontrar algumas semelhanças, como, por exemplo, tratar-se do fim de uma relação. E a coincidência de Leonard ser juiz, enqunato Dan (Michael Douglas) protagonista da longa-metragem é advogado.

Com esta série cresce o número de produções sul-africanas no catálogo da Netflix, numa lista que, só a título de exemplo se pode nomear “Blood & Water”, “Queen Sono”, “Jiva” e “King’s of Jo’burg”, vemos o retrato de uma família bem sucedida financeiramente, o que se pode atestar pela casa moderna em que o casal vive e os carros de alta cilindrada em que circulam. É, digamos o tal falado sucesso do “american dream”.

Se, guiado pelo título, se pode pensar numa série erótica – embora haja demasiadas cenas de sexo -, desengane-se. Pela complexidade de teias que se vão revelando a cada capítulo que sempre trazem para o presente – em flasbacks – um passado sombrio que envolvem os personagens, estamos mais próximos de um romance condenado à la William Shakespeare – como descreveu Susana Bessa na crítica ao filme turco de 1965, “Time to Love”.

Há, em cada 35 minutos em média de cada episódio, estórias de amores e passados mal resolvidos, desejo de vingança (que guiam Jacob), adultério e segredos inconfessáveis que fazem o fio da narrativa cuja crise se instala com a morte súbita de Brenda.

Com um elenco já experimentado e sobre o qual não há muito a questionar, “Fatal Seduction” não é capaz de oferecer uma proposta fora da caixa ao nível de, por exemplo, “High maintenance”. É uma produção que funciona para o entretenimento.

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É licenciado em Jornalismo, pela ESJ. Tem interesse de pesquisa no campo das artes, identidade e cultura, tendo já publicado no país e em Portugal os artigos “Ingredientes do cocktail de uma revolução estética” e “José Craveirinha e o Renascimento Negro de Harlem”. É membro da plataforma Mbenga Artes e Reflexões, desde 2014, foi jornalista na página cultural do Jornal Notícias (2016-2020) e um dos apresentadores do programa Conversas ao Meio Dia, docente de Jornalismo. Durante a formação foi monitor do Msc Isaías Fuel nas cadeiras de Jornalismo Especializado e Teorias da Comunicação. Na adolescência fez rádio, tendo sido apresentador do programa Mundo Sem Segredos, no Emissor Provincial da Rádio Moçambique de Inhambane. Fez um estágio na secção de cultura da RTP em Lisboa sob coordenação de Teresa Nicolau. Além de matérias jornalísticas, tem assinado crónicas, crítica literária, alguma dispersa de cinema e música. Escreve contos. Foi Gestor de Comunicação da Fundação Fernando Leite Couto. E actualmente, é Gestor Cultural do Centro Cultural Moçambicano-Alemão

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