Desigualdade e Habilidade: A Dissonância Social em “Parasita”

“Parasita” é uma obra-prima cinematográfica que explora com maestria as desigualdades sociais presentes na sociedade actual. O filme retrata de maneira vívida a realidade das diferentes classes sociais, fornecendo uma análise crítica das estruturas de poder e das injustiças que permeiam nossa sociedade.

Ao longo do filme, utiliza-se a metáfora da família Kim como parasita para ilustrar a relação complexa entre as classes sociais. A família pobre se infiltra na vida da família rica Park, dependendo de mentiras e manipulações para se sustentar. Essa dinâmica simboliza a luta das classes mais desfavorecidas para sobreviver em um sistema que favorece os privilegiados.

 Em uma cena impactante de “Parasita”, a personagem Park Yeon-kyo, a senhora rica da família Park, está no carro com Kim Ki-taek, o homem pobre da família Kim, durante uma chuva intensa. Enquanto atravessam a tempestade, ela casualmente comenta sobre o céu estar mais claro e menos poluído devido à chuva, sem perceber as dificuldades enfrentadas por Kim Ki-taek. Nesse momento, a disparidade entre suas realidades é enfatizada, pois enquanto a família rica desfruta da segurança de sua casa, a família pobre está lidando com a devastação de uma inundação em sua moradia. Essa cena ressalta a desconexão e a falta de consciência sobre as dificuldades enfrentadas pelas classes menos privilegiadas.

Além das relações entre proletariado e burguesia, o filme “Parasita” também aborda a questão do poder e como aqueles que estão em uma posição inferior podem exercer poder sobre os menos privilegiados. 

Trailer de Parasita

Em “Parasita”, Bong Joon-ho retrata a dinâmica do poder e como ela pode se manifestar mesmo entre aqueles que são oprimidos pela estrutura social. Quando a família pobre, os Kim, obtém sucesso em se infiltrar na vida da família rica, os Park, eles começam a exercer poder sobre outras pessoas que estão abaixo deles na hierarquia social.

Uma poderosa sequência envolve a ex-governanta da família Park, Moon-gwang, implorando à família Kim para ver seu marido, que vive escondido no porão da mansão. Quando Moon-gwang ganha momentaneamente o poder e influência sobre a família pobre, ela não demonstra compaixão ou empatia. Em vez disso, ela aproveita a oportunidade para humilhar e menosprezar os Kim, reforçando a sua posição de superioridade temporária. Essa cena revela a complexidade das dinâmicas de poder e como aqueles que foram marginalizados também podem se tornar opressores, perpetuando um ciclo de desigualdade social.

Essa mudança de dinâmica é fascinante, pois mostra como a busca pela ascensão social pode, por vezes, levar os oprimidos a se tornarem opressores. Os Kim, inicialmente presos na base da pirâmide social, encontram uma oportunidade de subir alguns degraus e, nesse processo, não hesitam em subjugar outras pessoas em posição ainda mais desfavorecida.

Essa reflexão sobre o poder demonstra a complexidade das relações sociais e como a busca por status e sobrevivência pode corromper mesmo aqueles que estão marginalizados. O filme coloca em questão se o poder é inerentemente corruptível ou se é o sistema opressivo que o gera.

Ao explorar essa dinâmica, “Parasita” revela a fragilidade das estruturas de poder existentes e como elas perpetuam a desigualdade e a opressão. O filme desafia a noção simplista de que os oprimidos são necessariamente virtuosos e os opressores são intrinsecamente maus, apresentando personagens complexos que estão envolvidos em uma teia de relações de poder.

O roteiro de “Parasita” é um dos pontos fortes do filme. A maneira como as cenas se desdobram de forma contínua e interconectada é um verdadeiro deleite para o espectador. O filme mantém um equilíbrio habilidoso entre a tensão crescente e os momentos de alívio cômico, criando uma experiência cinematográfica envolvente e imprevisível.

Os atores principais capturam as nuances de seus personagens de maneira extraordinária. Suas expressões faciais, gestos sutis e entrega vocal demonstram uma compreensão profunda de suas respectivas motivações e emoções. Destaca-se a interpretação de atores como Atores Talentosos, que retratam com maestria os diferentes aspectos da luta de classes, alternando entre momentos de tensão, desespero, astúcia e até mesmo humor negro.

“Parasita” é um filme que transcende os limites do entretenimento e se torna uma poderosa crítica à desigualdade social e ao abuso de poder. É uma obra-prima que nos desafia a refletir sobre as estruturas sociais em que vivemos e nos inspira a buscar um mundo mais justo e equitativo.

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