Lalah Mahigo reencontra-se no seu álbum de estreia

“Kutikuma” (encontrar-se) é como Lalah Mahigo decidiu chamar o seu álbum de estreia que chegou, recentemente, às mãos dos amantes da música. Constituído por 15 faixas é daqueles trabalhos discográficos difíceis de escolher o tema predileto. 

Produzido por Zé Pires, “Kutikuma” transborda – ao longo de 15 faixas – as mais diversas formas de amor e a moçambicanidade, além de exibir uma sonoridade com traços eletrónicos unido as influências de sons nacionais, Afro-Jazz, Afro-tradiconal e, de certa forma, brasileiros (Bossa Nova).

Em termos de composição, Lalah mergulha nos diversos fragmentos que permeiam as relações para além do amor romântico porém, acima de tudo, o álbum é um “lugar” da sua auto-afirmação enquanto artista, mulher e ser humano, em busca contínua de si próprio.

Lalah, talentosa e com um caminho promissor na música, faz-se acompanhar por instrumentalistas de luxo. Ela segue a tal velha máxima: se quiser voar como as águias então é delas que se deve envoltar. 

Eis a lista dos senhores: Helder Gonzaga (baixo), Livio Mondlane (teclado), Stélio Zoe (bateria), Djivas (guitara), Dodó (guitarra). Em algumas músicas ouve-se também o sopro de Sarmento de Cristo (saxofone).

E os coristas não ficam por trás. São de requinte: Sheila Jesuíta, Naldo Ngoka, Nervas e outros. 

Kutikuma é um álbum cujo lançamento foi o culminar de quatro anos de trabalho. E também é um projeto em homenagem a um dos irmãos de Lalah que perdeu a vida.

Ela, Lalah, canta o álbum em Bitonga, uma das línguas faladas na província de Inhambane, terra de onde vem, Changana, português e inglês. As suas inspirações são igualmente buscadas nas potentes referências da música moçambicana e estrangeira.

Sensações 

Antes da divulgação do álbum fez chegar “Hoya-Hoya”, “Dza Nandzika” e “Ku Yimbelela” três dos títulos do ”Kutikuma”. A ideia era dar ao público um gostinho do que estaria presente no disco. 

O primeiro título é um lugar de reencontro, paixão, sorrisos e, essencialmente, um reflexo da nossa moçambicanidade. É sobre o calor e afecto que transmitimos aos nossos familiares, amigos e não só. A nossa maneira de receber quem por algum período esteve fora do convívio familiar.

O segundo é a exaltação da beleza da vida a dois quando há o amor sincero, comprometido e que se consubstancia pelo respeito e entrega… É sobre o encontro entre almas gémeas.

Ku Yimbelela” é dançante e contagiante. Lembra como a mágia da música pode colorir o dia de uma alma em prantos. Diz que esta bela arte é um lugar de alento… acompanha a vida do Homem em todos os momentos, enfim.

No entanto, mais faixas aparecem em “Kutikuma”. “Mafalala” é uma delas. De refrão fácil de pegar, versa sobre a grandeza deste mítico bairro. Dos temperos, sabores e cheiros… de como as diferente etnias moçambicanas se entrelaçam e juntas tecem uma única: a etnia moçambicana. 

Homenageia, ainda, as suas gentes desde as mais simples às figuras sonantes que ajudaram a catapultar o nome daquele bairro além fronteiras: José Craveirinha, Noemia de Sousa, Samora Machel, Joaquim Chissano, Eusébio Ferreira, António Marcos, Wazimbo, Adelino Branquinho, Glória Muianga, Matateu, as avós das badjias, Mahantes… 

Mas é preciso fazer referência à Intro (canto popular de Inhambane) que inicia ao álbum. Autêntico prenúncio da preciosidade que é o trabalho, nela Lalah canta em Bitonga e fá-lo sob “protecção” da sua mãe (Alice Santos) e irmãos (Osvaldo Luís, José Manuel (Jomalu), Naldo Ngoka e Jaime Luís) que, tal como ela, cantam e convidam ao público à deliciar-se. 

Ku Tikuma” é em termos de ritmos uma grande exploração dos ritmos africanos, muito dançante. Porém enquanto se tira o pé do chão, o povo é convidado a voltar-se ao seu interior, introspecção, e buscar o Eu próprio. E liberta-se, assim, das várias amaras sociais… a manter a essência.

Porque a vida é um dom Divino, Lalah Mahigo rende-se ao Criador. Agradece todas as conquistas e, inclusive, alguns percalços que vão salpicando o seu dia-a-dia, fá-lo na faixa que designa “Moya Khensa”.

E em “Salanine” lembra-se de cumprir com um dos Dez Mandamentos:  HYPERLINK “https://www.bibliaon.com/versiculo/exodo_20_12/” Êxodo 20:12 “Honra teu pai e tua mãe, a fim de que tenhas vida longa na terra que o Senhor,o teu Deus, te dá”. Aqui ela se despede dos seus pais, e agradece profundamente todo amor e ensinamentos a si transmitidos desde que o Altíssimo permitiu a sua existência. Promete igualmente que, apesar de sair para viver distante, não se vai esquecer deles.

Enquanto isto, o “She’s Got” é uma crítica àqueles que têm muita disposição para controlar a vida alheia. Que, inclusive, se socorrem da especulação para rotular a quem muito gostavam de saber os detalhes da vida… ao mesmo tempo é a evidência de que é fundamental conhecer-se para poder caminhar de cabeça erguida.

Ga vana Ngoka” é um interlúdio que nos leva às últimas faixas. Também ela é cantada em Bitonga sendo que explora bastante os ricos ritmos africanos. Aqui Lalah faz-se acompanhar apenas por um dos seus irmãos: Naldo Ngoka.

Já “Isabel” é perfumado de ritmos africanos e também sente-se nela a influência da Bossa-nova. 

Yimbelela Mahigo” concretiza a emoção de fãs que esperam encontrar também uma Lalah que fá-los dançar. Aromatizado pelo jazz sul-africano dos anos 60 é um momento de festa ao mesmo tempo que deixa uma certa nostalgia afinal é igualmente a faixa que encerra o álbum.

Mas também podem se ouvir no álbum outros “sabores”: “Agradeço”, “What´s Going on” e “Massiko”.

Biografia 

Carla Manuel Luís, nome de registo da Lalah, deu os seus primeiros passos na música na Igreja Congregacional Unida de Moçambique. Cantava em grupos que lá existiam. 

A posterior participou e venceu o concurso de Música da Universidade Pedagógica. Mas não parou por aqui. Fez parte de alguns programas televisivos de caça de talentos: “Super Tardes” e “Desafio Total”.

António Marcos, Stewart, Sukuma, Xixel Langa, Isabel Novela, Elcides Carlos, Mingas, Banda Kakana, entre outros, são alguns dos nomes com quem Lalah já partilhou o palco.

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