Eugénio Saranga abre “Cartas do Norte e Relatos do interior” na Galeria da FFLC

Estará patente, a partir de 05 de outubro, a exposição individual de pintura e desenho “Cartas do Norte e Relatos do interior”, de Eugénio Saranga, na Galeria principal da Fundação Fernando Leite Couto.

Com a inauguração marcada para as 18.00 horas, esta mostra, primeira a solo de Saranga numa galeria do país, conta com a curadoria de Yolanda Couto e está a ser produzida desde 2019.

Através do desenho e da pintura, o artista moçambicano, um dos mais discretos da sua geração, impõe dúvidas com recurso a insinuações, provocações carregadas de um humor sarcástico.

Cabe, com efeito, ao visitante percorrer as incertezas do que as obras de Saranga sugerem e decifrar a sua compreensão sobre o que pode significar o seu estilo e sugestivo título “Cartas do Norte e Relatos do interior”.

“No imediato, a palavra “Carta” pode sugerir um tempo antigo. Um tempo de demora, de espera, em que a palavra ainda activava a magia de uma presença ausente, mas tão presente na caligrafia de quem a escreveu”, lê-se no texto de apresentação da exposição, integrado no catálogo.

Pintura de Saranga

“A opção, por um lado, pelo preto e branco nos desenhos que o artista fez de propósito para esta exposição alimentam esta suposição do passado”, lê-se ainda no texto que estamos a citar, assinado pelo jornalista Leonel Matusse Jr.

Por outro, prossegue, através de um traço que remete aos padrões das tatuagens dos rostos das mulheres Makonde, o negro escuro das aguarelas que sugerem o pau preto das esculturas o artista nos conduz aos ventos frios que nos chegam do Norte.

Nas pinturas, Saranga realiza uma perfeita performance de cores que são muito nossas, privilégio que o sol parece só dar luz na nossa geografia. Optando por um verde e um azul de transparências e luminosidade que lhe são únicos, peculiaridades de África se revelam.

Saranga, nas suas obras, faz insinuações e esconde (?) as figuras com desenhos disformes e sobrepostos por outras camadas. Satiriza o espectáculo da sociedade usando um trocadilho de cores, expressando o seu pensamento nas telas, como se fossem as frases do pensador francês Guy Debord: “As paixões já foram suficientemente interpretadas; o objetivo agora é descobrir novas paixões”.

No seu abstracto, insinua-se uma ideia pintada sobre o xadrez que se chama realidade, explorando diferenças e semelhanças nos personagens em castanho e amarelo que mais parecem o pôr do sol visto do centro urbano, noutras a cor da terra e de ferrugem, que constituíram a base da reflexão e inovação de Saranga.

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