Excertos de Maputo aos olhos de Mário Forjaz Secca

Quando o poeta francês Charles Baudelaire, no poema “AS JANELAS”, a dado verso, escreveu que “quem olha de fora por uma janela aberta não vê nunca tantas coisas como quem olha uma janela fechada”, indicava um olhar para dentro. Queria contemplar os detalhes do seu interior, da vida que vive, sonha e sofre.

Noutra direccção, vai o fotógrafo, também poeta, Mário Forjaz Secca, na sua exposição individual de fotografia, “Mtomoni Nono Andar”, que pela sua janela, no nono andar, quer ver e dar a ver a vida que deambula, que acontece indiferente a qualquer reflexão ou mesmo propósito poético em si.

Como um sniper, que pacientemente aguarda pelo momento exacto para o tiro certeiro, Mário Forjaz Secca se predispôs a captar os contornos das sombras que os edifícios, objectos e árvores desenham mediante a posição do sol. Num exercício que regista, igualmente, os pequenos e naturais gestos, as rotinas das pessoas com a singularidade de conjugar cores dispostas casualmente.

Nesta era em que, nos centros urbanos, a imagem ocupa posição central em painéis e demais dispositivos publicitários e as redes sociais da internet se nutrem da dunbanenguização dos signos, o comum é cruzar com a efémera fotografia do tipo isto-foi, que Roland Barthes cunhou de punctum, no livro “A câmara clara”.

O modo sensível com que Mário Forjaz Secca capta as fotografias ainda recorrendo a Barthes, aponta mais para a direcção do studium, que faz da imagem material ainda por decifrar e, nalguns casos, em diálogo com o desenho, como por exemplo, na série Janelas.

Com efeito, “Mtomoni – Nono Andar” parece querer nos recordar sobre os pequenos nadas onde se esconde o belo que nos escapa no quotidiano através de fotografias – essa palavras caladas –capazes de fazer falar o silêncio.
A exposição estará aberta até dia 30 do mês corrente.

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