Nos Becos De Nkobe (1)

O relógio aponta para vinte e vinte e dois minutos. No inverno, o sol se apressa e recolhe-se mais cedo, quiçá esteja a fugir de seu amante, o frio, que se faz sentir em meados de Junho. Quão medroso é o sol, precisa urgentemente de uma porção de coragem que Didinho e Telinha têm para ficar as escondidas nos becos alheios.

Logo após o aparecimento da lua, nem os moradores nativosousam caminhar pelos becos escuros, salvam-se pelas ruas mais abertas do bairro. Quem os vê de noite, Telinha e Didinho, um de pé e outro inclinado, como se tivesse perdido alguma coisa no chão, pensa que seja apenas um movimento para controlar uma vítima e executar o roubo de seus pertences.

O que ninguém sabe é que o movimento que se trata entre os dois, não passa de entradas e retiradas, fortes e leves, dentro de uma saía levantada e zíper aberto. Neste inverno, aquela tem sido a nova casa do casal.

No ínicio era só aventura. Telinha, ainda nova no mundo dos amores, paixões e sexo, pouco entendia sobre como as coisas funcionam, tanto que viu sua virgnidade se apartar de seu corpo, num desses becos da zona de Jeft, amigo do seu namorado.

Ao longo do tempo e com interação com suas amigas, aparentemente mais maduras, percebe que não é bem assim como as coisas funcionavam, na sua relação. Telinha, mal conhecia a casa de seu namorado, tudo o que sabia é que Didinho mora na zona de Nkobe, vive com os pais e tem cinco irmãos.

– Amigas, vou vos confessar que não conheço a casa de Didinho.

– Alô? Brinca bem. Como assim, não conheces, três anos de namoro dele é o quê, então?

Ele nunca quis me levar para lá porque a mãe é chata. Até entendo, pega sempre no pé dele, liga-lhe a cada cinco minuto para perguntar onde e com quem está.

– Ah, isso não se justifica. Pelo menos saber dizer “é aqui”tinhas que saber, para se amanhã acontecer alguma coisa saberes onde lhe procurar.

A intuição de Djeny, sua amiga, não falhou. Há dias que Telinha não se sente nada bem. Reclama de vômitos constantes e atraso na menstrução, para além dos desejos estranhos que sente.

Desde que Telinha insistiu em conhecer a casa de seu namorado, ele sumiu, parou de mandar mensagens e fazer ligaçõestelefónicas, mas  Telinha insistia sempre, afinal era o grande amor de sua vida, ainda com defeitos. Ao andar do tempo, nem as chamadas de Telinha atendia. Parece que ele já sabia queTelinha precisaria dele nos próximos dias e meses.

– Amigas, o teste deu positivo… e aquele… sumiu. (conta desesperada).

– Eu te avisei Tela, não te avisei?

– Agora é para fazermos  o quê?

– Ele vive no Nkobe.

– Nkobe é grande. Sabias?

– Sei. (explode de choros)

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