Jorge Dias levou capulana para traçar fragmentos da memória moçambicana no Brasil

“Um urbanista da memória” é o título da exposição individual de Jorge Dias, a inaugurar hoje em Campinas, São Paulo, no Brasil, sob curadoria de Genivaldo Amorim. A mostra estará aberta até 08 de Setembro.

No dia 5 deste mês, o artista plástico moçambicano e professor de História de arte, além de ter sido um dos personagens de maior protagonismo no contexto do Movimento de Arte Contemporânea de Moçambique (Muvart), já tinha inaugurado a colectiva “Espécies Nativas” com Genivaldo Amorim, no Parque Municipal Monsenhor Bruno Nardini em Valinhos São Paulo.

“Nesta exposição (a inaugurar hoje), usando somente capulanas, secular tecido colorido usado principalmente pelas mulheres moçambicanas em momentos especiais, como casamentos, funerais e outros rituais”, escreveu o curador Genivaldo Amorim.

Para Amorim, a mesma apresenta-se como um desdobramento da exposição “Lugar-Comum”, realizada em Maputo, em 2014, com um conjunto de trabalhos realizados para a residência artística no AT|AL|609 – Lugar de Investigações artística.

A partir de um olhar que tem em perspectiva trabalhos anteriores do artista moçambicano, que igualmente é director do Instituto Guimarães Rosa/Centro Cultural Brasil-Moçambique, o curador observa que na apresentação da exposição “Lugar Comum”, o escritor António Cabrita descreve o processo criativo de Jorge Dias como o de um artista “que tem um coração escarpado e com sensibilidade que não ancora no óbvio”.

“A descrição de Cabrita não poderia ser mais precisa, Jorge Dias há muito trava uma luta diária para escapar das armadilhas dos que tentam estabelecer aspectos consolidados do que deve ser, parecer e se comportar a produção de um artista nascido no continente africano”, lê-se no texto de Genivaldo Amorim.

De Moçambique, prossegue o curador, Jorge busca um diálogo que fala das memórias, dos valores culturais que fazem parte do processo de construção de identidade comum em permanente construção.

“Não ancora no óbvio, nem nos contornos da clareza, optando por privilegiar as perguntas em vez da busca por respostas definitivas”, observa Amorim, “nas obras, a tradição solidificada e presente das capulanas é deslocada através dos recortes, surgindo novas composições e leituras, apropriações das formas dos objetos da escultura etnográfica, dos instrumentos do cotidiano, dando novas formas e sentido às capulanas”.

Os trabalhos de Jorge Dias, continua o curador, permitem que o artista transite em territórios fronteiriços entre o mundo real e da arte, entre as formas existentes e seus limites, naquilo que é tangente, que é intercepções, que flui num hibridismo cultural.

“Os questionamentos são sempre presentes, trazendo reflexões a partir da experiência pessoal e do grupo, sobre quais memórias trabalhamos, nessa sociedade em permanente conflito na qual vivemos”, conclui.

Sobre a primeira exposição, inaugurada a 5 do corrente mês, o curador Andrés I. M. Hernández, escreveu que “o projeto se articula de degraus dos processos de criação artística de Genivaldo Amorim e Jorge Dias, de suas convicções e modos de agir no cotidiano como artistas e seres humanos potencializando a interdisciplinaridade e a instrução como ferramenta primordial no desenvolvimento cultural da humanidade”.

 

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