Tradução de “Tchanaze” vence PEN Translates Award

A tradução para o inglês da obra “Tchanaze, a donzela de Sena” feita pela tradutora e editora moçambicana, Sandra Tamele, foi galardoada no Reino Unido, com o prémio PEN Translates Award , iniciativa movida pela organização internacional English PEN, que defende, entre várias causas, os direitos humanos e a liberdade de escrever e de ler em todo o mundo.

“Tchanaze” é uma obra da autoria do escritor moçambicano Carlos Rufino Paradona. A organização do galardão indica que o livro foi seleccionado para o prémio com base na excelente qualidade literária, na força do projecto editorial e em sua contribuição para a bibliodiversidade do Reino Unido.
“O trabalho da obra começou no início do ano”, esclareceu a tradutora Sandra Tamele, tendo acrescentado que este projecto de traduzir “Tchanaze” chegou às suas mãos através do editor e tradutor Jethro Soutar (Dedalus Africa), que acreditou que a obra do escritor moçambicano, Carlos Paradona, tem um enredo que devia ser lido em outros cantos do mundo.

“O prémio PEN pede aos tradutores para que submetam um pequeno trecho da tradução que pretendem candidatar o prémio, e foi o que fizemos em Fevereiro deste ano, uma proposta que trabalhamos juntos, eu e Jethro Soutar, então vencemos este prémio que creio que seja histórico porque é a primeira vez que temos uma tradutora moçambicana de um autor moçambicano na história do prémio”.

Para Sandra Tamele, um prémio é sempre motivo de orgulho “principalmente quando concorre com um número recorde de editoras e tradutores que submeteram candidaturas neste ano. Nós trouxemos diversidade, temos dois negros de Moçambique a vencerem este prémio e a raça e género são questões que estão a ter espaço nos debate destes fóruns. Pensar que o meu nome está lá é um presente e honra não só Moçambique mas para PALOP”.

Foi um trabalho desafiante para a tradutora moçambicana, sobretudo numa altura em que há um caloroso debate sobre a questão da descolonização da tradução, com o intuito de manter os termos originais e eliminar os glossários.

“Mas também deu-me imenso prazer pelo facto de estar a traduzir da minha língua materna para o inglês. E é aí onde entra a parceria com Jethro Soutar, porque ele é falante nativo do inglês, e vamos casando a minha interpretação que está mais próxima daquilo que é a realidade e depois a questão da discussão sobre os termos que o autor usa, que são específicos da cultura Ma-Sena”.

Refira-se que Tchanaze é um romance do escritor moçambicano Carlos Paradona Rufino Roque e que, em cerca de 200 páginas, discorre pelo vale do Zambeze, inspirado em histórias contadas à volta da fogueira, nas demandas regulares que se faziam às margens do rio e seus confluentes, nas armadilhas de peixes e noutras histórias carregadas de mistérios. É um livro – que também – não só exalta o deslumbramento do grande rio, assim como se curva perante a beleza da mulher personificada em Tchanaze.
Tal como já revelou o próprio autor da obra, Tchanaze parte duma construção mística e simboliza o que o vale do Zambeze tem de belo, que é um lugar onde as pessoas são solidárias, mas ao mesmo tempo temem-se. Durante o dia estão juntas, mas quando uma das famílias recebe um bem, como por exemplo missangas, ninguém pode presenciar esse acto que é para no future evitar-se possíveis invejas e ódios. Sendo assim, os que vão usar essas missangas só podem aparecer com elas de manhã, como se elas já existissem.

Para além da obra traduzida de Sandra Tamele, mais 20 livros foram reconhcidos com o prémio PEN Award. Segundo a organização, são livros que vão do realismo mágico, autoficção, poesia para crianças e que está expectante para fazer este conjunto de obras chegar aos leitores do Reino Unido.

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