Festival Raiz: o ponto de encontro das culturas nacionais

Nuvens negras sobrevoavam o palco, trazendo correntes de ar frio para o pequeno auditório que se juntou às primeiras exibições do último dia da 5a edição do Festival Raiz. Na ribalta, a Banda M’fecane preparava-se para abrir as apresentações em palco, depois do Tufo da Mafalala ter animado o público, com suas melodias vibrantes.

O brilho da capulana, Mussiro nos rostos e pés descalços, as senhoras do Tufo levantaram poeira, nas imediações do Museu Nacional de Artes, dançando e mostrando aos presentes a beleza e o primor das sonoridades influenciadas pela Ilha de Moçambique. Combinaram letras em Swahili à ritmos e instrumentos tradicionais, criando um espectáculo envolvente, qual prenúncio do que o dia ainda reservava.

Sentados na relva, a esverdear o chão ingrime, outros encostados a árvores, paredes e troncos espalhados pelo espaço, os presentes acompanhavam os pequenos acertos, feitos em palco, pela Banda M’fecane, entretidos pelo Uputso e THOM! THOM! THOM! (aguardente), servidos em copos feitos na base do Xhichambate (restos do fruto de coco).
Erasmo Faife (Afro Ito), o vocalista principal, tratou de tranquilizar ‘‘o baixista só está a fazer um pequeno teste. Pedimos desculpas’’. Desculpas aceites. Vamos ao show. ‘‘Ncaringana wa ncaringana’’ foi o beat de abertura. Com o som, o grupo conta a história de Moçambique, a destacar factos e características universais das diferentes culturas dispersas pelo território nacional.

O dia ainda estava claro, embora ameaçado por nuvens negras, mas as luzes já se faziam notar no palco, dando destaque à energia com que Afro Ito se apresenta. Na segunda faixa, intitulada “Nzeno”, o vocalista fez balançar as dredlok’s, ao se deixar embalar no ritmo da bateria, tocada por Domingos Durbeki, também membro do agrupamento. Seguiu-se “Hoyo! Hoyo!”, um som que mistura a Timbila, a uma espécie de chocalho (feito de frutos secos de acácias), tambores e instrumentos convencionais.

Depois foi a vez de ‘‘Malembe’’, música imbuída de mensagem de paz, a propósito das hostilidades vividas no centro e norte do país, nos últimos anos. O boné preto, com um detalhe branco, Mauro (baixista) arranhou as cordas da guitarra, fazendo ecoar o reggae, que levantou o público e outros acenavam, a seguir o ritmo.

“África”, foi mais um som que fez a festa dos M’fecane, antes de “Tukinema”, “Va Djamba” e “Swale”, todos em línguas locais, a misturar vivências, temas e diferentes situações do dia.

Cantar pela unidade nacional

“Foi uma maravilha, um sonho, estar aqui, neste movimento”, reagiu Erasmo Faife, representante da Banda M’fecane, logo após o espectáculo.

Mais do que uma banda, os M’fecane são uma companhia de artes, cujo propósito é de promover a unidade dos moçambicanos, através da música tradicional, o que condiz com os objectivos do Festival Raiz.

“A banda M’fecane começou pela dança, mas hoje tem repartições. Temos música, dança e poesia, tudo a trabalhar para a preservação e divulgação da cultura moçambicana” – explicou o líder e membro fundador da banda, Erasmo Faife.
Aliás, para o Festival Raiz, o grupo viajou para Cabo-Delgado, Niassa, Zavala e Sofala, onde teve experiências com músicos locais, o que tornou possível a produção de sons que misturam diversas línguas e ritmos originários de diversas regiões do país.

“Nossas composições temáticas são dedicadas no dia-a-dia do Homem. Falamos das doenças, da paz, falamos globalmente da vida do Homem” – disse.

Todos nós somos moçambicanos, continua, não existem Macenas, Machanganas, Macondes,.. todos somos moçambicanos. “Trabalhamos com a valorização da cultura, não temos o pensamento de que porque somos de Maputo, não podemos tocar ritmos do centro e norte, como a timbila e outros”, referenciou, a destacar que “por isso, vamos para os interior das províncias e trabalhamos com músicas e ritmos locais, para os levar para outros palcos”.

Leave a Comment

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

Scroll to Top