Maputo e Saint Pierre assinaram Memorando de Entendimento

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A cultura, o social e o desporto são os sectores cobertos pelo Memorando de Entendimento assinado na manhã de hoje entre os municípios de Maputo e Saint Pierre (Ilha Reunião), com duração de três anos.

“Uma das principais componentes, que será traduzido para um plano de acção, é a formação e capacitação nestas três áreas, assim como a troca de experiência entre os profissionais, agentes culturais e artistas”, disse Isabel Macie, vereadora de Cultura e Turismo do município da capital do país.

Instantes depois da cerimónia de formalização de um acordo que já vinha decorrendo desde 2019, quando a vereadora integrou a delegação moçambicana que viajou a Saint-Pierre para participar do Mercado de Música do Oceano Índico (IOMMA), Isabel assumiu ao “Mbenga” tratar-se de “um instrumento de colaboração muito importante para os dois municípios”.

O início formal do acordo, prosseguiu, é imediato e que embora tenha a duração de três anos, poderá ser prolongado, caso haja necessidade, pois o mesmo transcende um mandato. O que está em causa é uma visão cultural para o crescimento de ambos.

Isabel Macie vê este memorando com a particularidade de envolver dois municípios que embora “relactivamente distantes, em termos de conectividade”, são próximos geograficamente. Uma das suas expectativas é, ao mais alto nível, “influenciar para que a conectividade aérea seja facilitada”.

A vereadora esteve em representação do presidente do município de Maputo, Eneas Comiche, que já tinha assinado o acordo e a atribuiu uma procuração. Rodrigo Sala, Director do Serviço Municipal da Cultura e Eduardo Zaqueu, diplomata no Ministério dos Negócios Estrangeiros de Moçambique, afecto ao município, a acompanharam.

Michel Fontaine, presidente do município de Saint Pierre, disse na ocasião que “esta aproximação vai permitir maior relacionamento entre estes povos, algo que já era feito a nível dos artistas”.

A sua expectativa é que este seja apenas o início de uma relação duradoura entre as duas cidades que partilham a costa do Oceano Índico.

Este memorando de entendimento resulta do esforço da Khuzula, empresa privada que actua no sector cultural. É neste sentido que Paulo Chibanga, director da companhia, visivelmente orgulhos, disse que tal “representa um trabalho de mais de três anos a tentar concertar esta cooperação no sentido de impulsionar e melhorar ainda as actividades que já vinham acontecendo fora deste acordo, que era o intercambio artístico, acesso ao mercado de artistas moçambicanos e vice-versa”.

Chibanga detalhou que, na sequência da assinatura, a perspectiva é pensar numa visão de longo termo e macro com acções viradas para a criação de uma feira de intercâmbio entre os Saint Pierre e Maputo.
“Além da troca de experiência, estamos já a ver materializar o nosso maior sonho de dar uma nova vida as nossas salas de teatro, tais como o Gil Vicente, por exemplo”, acrescentou o director da Khuzula.

Enquanto membro da OTHAMA, organização que integra a Associação Iverca, IODINE e a Khuzula, Paulo Chibanga entende que poderão ampliar o leque das actividades organizadas por esse conjunto, para lá dos festivais Mafalala, Kinani e Azgo, respectivamente.

É no mesmo fio que Ivan Laranjeira, director do Museu Mafalala, disse que este acordo mostra a importância dos sectores de cultura e património, muitas vezes colocados a parte. “Mas estamos a ver que é o motivo para aproximar povos irmãos que historicamente sempre estiveram ligados”.

Para a Mafalala, continuou, representa a universalidade presente no bairro e em Saint Pierre. A ideia é trazer a conversa estas dinâmicas que constituem a realidade do oceano indico.

“Vamos contribuir para o desenvolvimento de uma narrativa do oceano Indico que, de certa forma, o contexto que se tem da diáspora mundial é virada para o ocidente e esta assinatura permite olhar para um outro lado do mundo”.

Esta assinatura acontece a margem do IOMMA, sigla do Mercado de Músicas Oceano do Índico, para o qual são convidados produtores, programadores, jornalistas e outros intervenientes da indústria musical da costa para ver bandas e músicos que poderão “bukar” para os seus espaços de actuação.

A delegação moçambicana presente no IOMMA é composta por representantes do Conselho Municipal da cidade Maputo – vereação da Cultura, Director Geral da Khuzula Investimento Paulo Chibanga, a Banda Rahja Ali, a Associação Iverca e os jornalistas José dos Remédios e Leonel Matusse Jr.. Assim como a banda do Radjha Ali, composta por Amade e Nando Morte (percussionistas), Sílvio (guitarrista), Sidney (baixo) e Paulo Borges (eng. de som).

Saint-Pierre é uma comuna francesa, localizada no departamento e região de La Réunion da qual é uma subprefeitura. É agora um dos 60 municípios mais populosos da França. Em 2016, a população de Saint-Pierre era de 84.169 habitantes de acordo com o censo do INSEE, o que o torna o terceiro município mais populoso da Reunião depois de
Saint-Denis e Saint-Paul. Com um centro da cidade desenvolvido e atraente, Saint-Pierre é frequentemente considerada a segunda cidade da Reunião depois de Saint-Denis.

A cidade, criada em 1735, tem uma ampla costa adaptada à visitação turística à beira-mar e que alberga um porto com 400 ancoradouros, particularmente atractivo para a prática de iatismo e pesca de alto mar e tradicional. Cidade animada, a orla e o bairro central são os lugares favoritos de restaurantes, cassinos, hotéis, boates e piano bars.

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É licenciado em Jornalismo, pela ESJ. Tem interesse de pesquisa no campo das artes, identidade e cultura, tendo já publicado no país e em Portugal os artigos “Ingredientes do cocktail de uma revolução estética” e “José Craveirinha e o Renascimento Negro de Harlem”. É membro da plataforma Mbenga Artes e Reflexões, desde 2014, foi jornalista na página cultural do Jornal Notícias (2016-2020) e um dos apresentadores do programa Conversas ao Meio Dia, docente de Jornalismo. Durante a formação foi monitor do Msc Isaías Fuel nas cadeiras de Jornalismo Especializado e Teorias da Comunicação. Na adolescência fez rádio, tendo sido apresentador do programa Mundo Sem Segredos, no Emissor Provincial da Rádio Moçambique de Inhambane. Fez um estágio na secção de cultura da RTP em Lisboa sob coordenação de Teresa Nicolau. Além de matérias jornalísticas, tem assinado crónicas, crítica literária, alguma dispersa de cinema e música. Escreve contos. Foi Gestor de Comunicação da Fundação Fernando Leite Couto. E actualmente, é Gestor Cultural do Centro Cultural Moçambicano-Alemão

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