Benim mostra obras de arte restituidas pela França

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As 26 peças consideradas sagradas do Benin, que estavam na posse da França há 130 anos, estão expostas desde domingo em Cotonou. As obras foram devolvidas no ano passado pelas autoridades gaulesas, em reconhecimento do crime que foi a sua retirada forçada.
O Presidente do Benim, Patrice Talon, de acordo com a DW, inaugurou no sábado (19.02) uma exposição de tesouros históricos devolvidos pela França no ano passado, quase 130 anos depois de terem sido roubados pelas forças coloniais.
As 26 peças, algumas consideradas sagradas no Benim, estão expostas a partir deste domingo, num espaço de 2.000 metros quadrados no Palácio Presidencial de Cotonou, numa exposição intitulada “Arte do Benim ontem e hoje”.
A devolução de artefactos pela França surge à medida que crescem os apelos em África para que os países ocidentais devolvam os despojos coloniais dos seus museus e coleções privadas, na sequência do relatório elaborado por Bénédicte Savoy e Felwine Sarr, apresentado por Emmanuel Macron em novembro de 2018.
Outros países europeus na posse de bens extraviados no contexto colonial que, conforme Achille Mbembe, foram retirados num contexto de desigualdade de poder em função da circunstância colonial, já foram pedidos para devolver. E, noutros casos, espera-se que tal aconteça.
Dois anos de negociações
As 26 peças devolvidas em novembro, após dois anos de negociações entre Paris e Cotonou, foram roubadas em 1892 pelas forças coloniais francesas de Abomey, capital do antigo reino de Dahomey, localizado no sul do Benim dos tempos modernos.
Esta exposição equivale a “orgulho e fé no que outrora fomos, no que somos e no que seremos”, disse Talon aos repórteres. O facto de as peças estarem finalmente de regresso a casa quebra um tabu e prepara o caminho para mais repatriações deste tipo, argumentou o chefe de Estado.
As obras estiveram 130 anos no estrangeiro, após a transferência de propriedade ter sido na quarta-feira formalizada no palácio do Eliseu, pelos ministros da cultura dos dois países, Roselyne Bachelot e Jean-Michel Abimbola.
“É um momento simbólico, comovente e histórico, que foi muito aguardado e inesperado”, disse, conforme o Observador, o Presidente francês, Emmanuel Macron, que em 2017 se comprometeu a restituir o património africano em França.
“Todo o povo do Benim vos exprime a sua gratidão”, agradeceu o homólogo beninês, Patrice Talon, que se deslocou a França para participar na cerimónia. No entanto, o chefe de Estado do Benim deixou um aviso: “A restituição das 26 obras é apenas uma etapa”.

“Como querem que o meu entusiasmo seja total quando obras como o Deus Gou ou a tábua de adivinhação do Fâ continuam aqui em França, para grande prejuízo dos seus beneficiários?”, disse Talon, prometendo regressar para outras restituições.
“Além desta restituição, vamos prosseguir o trabalho”, prometeu por seu lado Macron.
Entre as obras agora restituídas, que estavam expostas no museu parisiense do Quai Branly, figuram estátuas totem do antigo reino de Abomei, assim como o trono do rei Béhanzin, saqueados do palácio de Abomei pelas tropas coloniais francesas em 1892.

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É licenciado em Jornalismo, pela ESJ. Tem interesse de pesquisa no campo das artes, identidade e cultura, tendo já publicado no país e em Portugal os artigos “Ingredientes do cocktail de uma revolução estética” e “José Craveirinha e o Renascimento Negro de Harlem”. É membro da plataforma Mbenga Artes e Reflexões, desde 2014, foi jornalista na página cultural do Jornal Notícias (2016-2020) e um dos apresentadores do programa Conversas ao Meio Dia, docente de Jornalismo. Durante a formação foi monitor do Msc Isaías Fuel nas cadeiras de Jornalismo Especializado e Teorias da Comunicação. Na adolescência fez rádio, tendo sido apresentador do programa Mundo Sem Segredos, no Emissor Provincial da Rádio Moçambique de Inhambane. Fez um estágio na secção de cultura da RTP em Lisboa sob coordenação de Teresa Nicolau. Além de matérias jornalísticas, tem assinado crónicas, crítica literária, alguma dispersa de cinema e música. Escreve contos. Foi Gestor de Comunicação da Fundação Fernando Leite Couto. E actualmente, é Gestor Cultural do Centro Cultural Moçambicano-Alemão

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