Um possível prefácio do “Rokotxi” de Deltino Guerreiro

Quando a fórmula de aceitação do trabalho dos músicos, hoje confundido com o sucesso que se tornou sinónimo de fama, está já definida pelos hits do mainstream suportados, em termos de argumentos com os números do Youtube e outras redes sociais, lançar Rokotxi, um álbum feito por um jovem é quase, no nosso contexto, uma heresia.
Heresia porque não responde a esses padrões populares, de fama fácil, e, por outro lado, por ser uma proposta de uma busca que vai na direcção do interior do próprio artista e, inevitavelmente, para o imaginário das suas gentes, em Montepuez.
Este Rokotxi, nome Emakhua de uma planta medicinal, é um projecto firme nas raízes de Deltino Guerreiro que o usa como metáfora para uma possível cura do mundo através do amor, que acredita ele ser tão funcional como essa erva que, pelo que conta, na infância, a avô o deu para se tratar de uma dor de cabeça.
Coerente com essa busca de si próprio, recorreu a precursão do Mapiko, Tufo e do Zoré – uma dança tradicional de Inhambane – mas com uma abordagem contemporânea, com um toque pop, próximo daquela indefinição a que se prefere chamar worldmusic.
Outra marca deste trabalho, na inevitável comparação com Eparaka, seu álbum de estreia, – um dos legados da produtora Khongoloti Records – é uma acentuação ainda maior da voz como um instrumento, que nalguns momentos do seu canto pode remeter a influência islâmica de Nampula, onde cresceu o músico. E da guitarra que, em concertos, o vemos várias vezes vergando ao colo e na contracapa do álbum leva consigo na caminhada.
Para o álbum, “Rokotxi”, Deltino convidou o rapper Azagaia para o tema “Com amor se paga” e a cantora e intérprete Assa Matusse, para a música “Rokotxi” depois de ter composto para esta última, algumas músicas no álbum “+Eu”.
Embora a música seja mais expressão, emoção do que razão, o que explica gostarmos, por exemplo, de músicas em japonês ou mandarim, sem percebermos patavina do que se está a dizer, há, nos temas deste disco faixas que nos mostram as suas preocupações sociais sobre o status quo.
Reticente com esta afirmação, a mim parece estarmos diante de um pós-Eyuphuro, pós-Ali Faque e outras estrelas da música nortenha, num update dos géneros musicais que se desenvolveram a partir dos trabalhos destes artistas.

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