O Céu ou Inferno de Leco Nkululeko quer reflectir territórios antagónicos

Em “O Céu e o Inferno”, sua terceira obra literária, o escritor e poeta moçambicano, Leco Nkululeko, procura estabelecer o meio termo entre duas correntes contrastantes da produção literária em Moçambique, designadamente: a perspectiva que defende a instrumentalização da arte em prol da sociedade e, a outra, a que apregoa a arte ao serviço dela mesma.

Há, na história da literatura moçambicana, dois pensamentos. Por um lado, a arte é vista no sentido funcional, como um canal para a manifestação dos sentimentos da colectividade face ao contexto em que se encontra. A arte pela sociedade. E, por outro lado, há, também, a corrente que acredita que a arte deve existir independente da vontade, desejo, circunstâncias e anseios do Homem.

É um livro de poesia, escrito com a expectativa de unir forças opostas no mesmo espaço, para mostrar que tanto no céu (paz), quanto no inferno (caos) existem sentimentos e energias positivas.

Durante a cerimônia de lançamento do livro, evento que teve lugar no auditório do Centro Cultural Franco-Moçambicano, há dias, Leco Nkulueko disse ao “Mbenga”, que o “Céu e o Inferno” é um trabalho através do qual tenta mostrar a complementaridade entre os opostos.

“Para haver equilíbrio tem de haver, acima de tudo, a compaixão e o amor ao próximo, independente das diferenças e crenças existentes”, explicou. Tem de haver harmonia, entende o escritor, para que se atinja a plenitude.

Autor de “Há Gritos no Silêncio” (2011) e “Bíblia Lounge” (2018), (obras de poesia) e, também, de crónicas, Leco Nkulueko recorda que foi um desafio escrever e publicar a sua terceira obra numa época agitada pelas medidas preventivas da Covid-19.

Para o prefaciador da obra, Américo Pacule, a literatura moçambicana esteve, por muito tempo, polarizada, tendo as figuras de José Craveirinha e Rui Knofli como os seus extremos. O também crítico literário considera Leco Nkulueko um poeta da transgressão. Um escritor que não se une aos extremos e se encontra em constante movimento em direcção ou ponto de equilíbrio.

“Há uma nova identidade que está em construção, resultante da difusão, para onde o Leco se está a deslocar com esta procura de união dos opostos”, clarificou.

Para Américo Pacule, a nova geração de poetas e escritores moçambicanos, da qual Leco Nkulueko faz parte, tende a se distanciar tanto dos  aspectos concretos, quanto dos abstractos, através da linguagem.

“Temos, por exemplo, um Léo Cote. Ao ler a sua poesia, não vais sentir se estás em Moçambique ou em Portugal. O mesmo acontece com a poesia de Álvaro Taruma. É uma poesia do centro”, clarificou.

 Ilustrada por Mudungaze Dinguiraye, a obra “O Céu e Inferno” foi apresentada pelo filósofo Dionísio Bahule, para quem Leco Nkulueko se distância de um acto literário realista.

“O realismo foi uma arte fotográfica, aquilo que a geração Charrua faz, nos anos 80, que o recurso à linguagem de fotografia. Leco não usa linguagem de fotografia, ele transgride. Usa um vocabulário tipicamente único”, disse.

O processo que Leco usa para discutir questões sociais, acrescenta o Bahule, não é panfletário. A arte não se pode deixar denigrir para uma arte de panfleto.

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