Texto de Noélia Ribeiro
DOMINGO DE PRAIA
Deitado sobre a areia, um
homem aguarda o mar.
Não presume o próprio
deserto porque tem em si
o mar de Sophia.
Sussurra o mar ao seu
ouvido o epílogo da vida.
Dias e horas de rabiscos na
página aberta do diário.
Os banhistas não reparam
a ausência do poeta nem
da poesia. Mais uma vez,
desperdiçam o mar.
SERÁ QUE O SOL JÁ VEM?
A chuva forte pelo vidro da janela
realça o verde da folhagem.
Formam-se pequenos
montes de argila que moldam arabescos.
Tudo se renova!
A água procura um lugar para o lixo:
insetos mortos, versos fúteis, restos
de feitiçarias, guimbas
de afetos e vícios.
O cinza esmaltado do céu
sugere algo essencial:
o prazer inexorável e diário
de expectar o mais livre dos sóis
após o temporal.
A FORMA DA ÁGUA
O amor abissal,
em sua forma genuína
e sob a vigilância
de cavalos-marinhos,
não está ao nosso alcance.
A nós humanos cabem
as chamas da Quimera e a
falsa profundeza do romance.
***
Noélia Ribeiro é uma poeta brasileira, nascida em Pernambuco e radicada no Distrito Federal. Graduou-se em Letras na Universidade de Brasília e publicou quatro livros de poesia. Tem poemas em antologias, jornais e revistas digitais brasileiras. Participa da antologia As Mulheres Poetas na Literatura Brasileira (Arribaçã, 2021). Em 2017, recebeu o Prêmio FAC – Igualdade de Gêneros na Cultura e integrou a exposição Poesia Agora, na Caixa Cultural do Rio de janeiro. É membro da Associação Nacional de Escritores, em Brasília, e da União Brasileira de Escritores, no Rio de Janeiro.