Hermelinda Simela foi uma mulher de ambições

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Hermelinda Simela

Colegas e amigos de Hermelinda Simela, actriz e realizadora que perdeu a vida no cair da noite ontem devido a complicações no parto, lamentam a perda de mulher de muitas qualidades, desejos e ambições.

A artista é lembrada como uma mulher forte, resiliente e igual a si mesma. Guerreira de punho cerrado, que usou o teatro como arma para combater as injustiças sociais, sobretudo a violência baseada no género.

Ao longo dos cerca de 23 anos de carreira artística, rodou o país e o mundo, deixando pequenas porções de si um pouco por toda a parte. Participou em diversos filmes e peças teatrais – de onde amealhou várias distinções – e abraçou causas sociais.

É membro do Centro do Teatro do Oprimido (CTO), uma instituição voltada a pesquisa e divulgação de técnicas teatrais, buscando alternativas para conflitos sociais.

Amigas inseparáveis e de longa data, Hermelinda Simela e Gigliola Zacara compartilharam alegrias, dores e tristezas. Juntas, conquistaram o mundo, através da bravura que lhes é característica e pretendiam continuar a fazer o que mais gostam, usar a arte para amplificar o choro das minorias oprimidas e “descortinar tabus”.

Um casamento feliz, que nem a morte vai separar. Zacara descreve Hermelinda Simela como “irmã, amiga que fazia toda a diferença no panorama cultural”.

Em conversa telefónica feita ao longo da manhã de hoje, Gigliola, actriz, realizadora além de bailarina, enalteceu os feitos da amiga, tendo dito que graças ao espírito altruísta que viu na sua colega de profissão, convidou-a para ser membro co-fundador da Associação Centro de Recreação Artística, uma agremiação que se dedica a promoção, divulgação desenvolvimento de actividades de carácter cultural, recreativo e social.

“Uma das causas defendidas por Hermelinda Simela é a humanização do parto, este tema profundo em torno do qual vamos continuar a fazer o nosso trabalho”, disse Gigliola  Zacara, aos soluços, acrescentando que “a luta contra o mau comportamento médico, sobretudo no momento do parto, continua para que mais mulheres voltem seguras”.

Três dias antes do seu desaparecimento físico, Hermelinda Simela conversou com o actor e professor universitário Dadivo José. Entre tantas matérias, a conversa girou em torno dos projectos futuros que, juntos, pretendiam materializar.

Facto que deixa frescas as memórias e recordações que guarda sobre a finada. Dadivo José destacou a abnegação, crença nas suas capacidades e o espírito de mãe, como traços identitários desta artista com quem trabalhou em vários projectos e que, na sua observação, “fez parte de praticamente todos os movimentos artísticos dos últimos 20 anos”.

Quando questionado sobre a real dimensão de Hermelinda Simela, Dadivo sublinhou que “o país perde uma dinamizadora, sonhadora e pensadora social, alguém que que deixa boas recordações”.

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Encontra no jornalismo um espaço fértil para alimentar o gosto de narrar factos e partilhar experiências do dia a dia. Estudante finalista pela ECA-UEM, vê na leitura e escrita ferramentas indispensáveis para contar hi(e)stórias, exteriorizar-se e conduzir o mundo pelo caminho da luz e da boa convivência entre pessoas. Também tem formação técnica em Jornalismo e Multimédia e colabora com a plataforma Mbenga desde 2019. Tem, ainda, textos publicados em diversos semanários nacionais.

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