“Phandar” de Maluzhane a reflectir o nosso “desenrasque”

Desde que a exposição “Phandar”, do artista plástico moçambicano, Maluzhane Bila, foi inaugurada a Galeria da Kulungwana jamais foi a mesma. As esculturas de metal e plástico transformaram o pequeno espaço na catedral do debate sociológico sobre as diferentes formas de “desenrascar” a vida.

As transformações estão por todo o lado. A começar pela margem direita do exterior da Galeria, que sita na Estação dos Caminhos de Ferro de Moçambique, onde há “Bichos reunidos”, uma escultura que representa o ajuntamento de pessoas remoendo ideias para alcançar os seus intentos, a qualquer o custo. É um exercício metafórico operado com êxito pelo artista para representar pessoas tomadas pela ganância e outras imoralidades que afectam negativamente a convivência social.

São, essencialmente, duas torres de ferro (bichos) na posição vertical com a base feita de tubos entrelaçados, que, em conversa, tomam decisões de se apropriar, atacar e subjugar os seus semelhantes. E justificam seus actos como uma forma de “desenrascar” suas vidas. É um exercício que corresponde a linha que cose o pensamento que torna possível este trabalho.

Fotografia de Júlio Marcos

Na porta principal da Galeria vê-se, exactamente no centro do salão, mais duas torres erectas, mais próximas do que aquelas vistas no exterior. Designada “Dupla penetração”, através desta escultura pode-se reflectir sobre o espírito multifacetado dos “desenrascadores” da vida. Com esta escultura, Maluzhane traduz a necessidade de exploração, ao máximo, das capacidades individuais, para se contornar as adversidades impostas pelas circunstâncias.

Tal como se pode ler na nota da exposição, “Phandar produz linhas de fuga das situações de opressão.”

Pendurada na parede a direita da Galeria, partindo da entrada, o “Campo de minas” é uma reflexão em torno das dificuldades enfrentadas pelo cidadão comum na tentativa de mudar as suas condições de vida. A obra é composta por plástico, este material hoje condenado e “descartável” do qual Maluzhane se apodera, na tentativa de descrever as questões sociais, familiares, políticas e económicas que perigam o futuro da natureza e da humanidade.

Fotografia de Júlio Marcos

À esquerda do “Campo de minas”, de frente para a entrada, está a escultura “Modjeiros” feita de tubo de ferro (a não rendição). Esta obra faz alusão a uma nova profissão, que, devido ao seu caráter informal, representa a expressão máxima do termo “phandar” e é como se quisesse agitar as águas onde se reflecte a consciência adormecida em relação aos fracassos da assistência social em Moçambique.

“Romeu e Julieta” e “Marandzas” são outras obras que problematizam os namoros de hoje, muitas vezes visto como uma forma de “phandar” pela parceira e seus familiares, que encarregam o namorado das despesas da filha. E as consequências das dificuldades enfrentadas pelas mulheres.

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