Textos de Lau Siqueira
FIGOS MADUROS
ai de mim
com esta figueira crescendo dentro
sem saber direito o momento da poda
ou da colheita
ai de mim
que não entendo de árvores
e não compreendo o que dizem
o que fazem
como agem na hora do corte
e depois
na transcendência
das figueiras
não sei de casca
grossa no caule leitoso
que com o tempo será
fibra impermeável
ai de mim
que percorro a mansidão invisível
como um galo cumprindo o ofício
das manhãs
CONDIÇÃO PERENE
nas cheias
o rio comanda o espetáculo
e as margens são apenas
degraus para o leito mais fundo
nas secas
o rio é a margem
TAPERA
O tempo é uma casa
desabitada e esquecida
no meio de estrada.
Quem passou por ela
e viu apenas uma
casa, na verdade não
viu nada.
***
Lau Siqueira é um poeta brasileiro que nasceu no ano de 1957, em Jaguarão, no extremo sul do Brasil. Reside no Nordeste, na Paraíba. Publicou dez livros de poemas. Os três apresentados aqui estão no livro “O inventário do Pêssego” e “A memória é uma espécie de cravo ferrando a estranheza das coisas”, ambos publicados pela Editora Casa Verde. Participou de diversas coletâneas e antologias no Brasil e no exterior. Sua poesia está em várias, revistas, suplementos literários, sites e blogs. Atualmente escreve periodicamente para as revistas Crônicas Cariocas e Mallarmargens – regista de literatura e arte.