Poemas de Iner Muchine

Textos de Iner Muchine

A EXTENSÃO DO VAZIO

Reina um silêncio pós-adeus, uma secreta solidão, cada vez que traço outras rotas para o esquecimento. Minha cabeça põe-se a jejuar a tua voz cercada pela ilha do meu pranto e quando a noite se racha em mil escuridões, eu grito para sempre dos terraços interiores. Levada aos beiços, a taça fria que vigia o tremor do meu sangue cai no silêncio vasto da noite e eu vejo-me sozinho, petrificado na sentença do acaso e revivo o susto da tua demora levantada na cabeça pelas luzes da devoção. Sinto que pela madrugada adentro a memória é um campo de guerra e a tua face é a justiça que os meus olhos buscam cada vez que a professo com os meus dedos indefesos, náufragos e assaltados pelo terror da tua ausência, quando na sombra da noite, o teu corpo se sepulta na tragédia da minha insónia e a mão mágica do meu solilóquio pede um corrimão a cada ciclo desta confissão.

Pintura de João Timane
Pintura de João Timane

NOCTIS

Quer-se do crepúsculo o desabotoar do abismo
Até que a noite ressurja do poema
E as trevas se acalentem na chama sôfrega do destino.
Todo o corpo é trágico no leito do esquecimento e o ofício do fogo
Prolonga a compaixão da cegueira pelas salas escuras do amor
Agora que o coração é a tocha da meditação;
A revelação do zodíaco;
O clamor absoluto das chagas que se perdem na agonia que sobrevivo
Por todos os séculos desta noite.

***

Iner Muchine é um escritor e poeta nascido e residente em Maputo, Moçambique. Nascido a 23 de Maio de 1997, seu primeiro contacto com a poesia foi aos seus 11 anos, com poemas de José Craveirinha “Grito negro” e “Poema do futuro cidadão”. Participou da antologia “Duas faces da mesma poesia” e tem poemas publicados em blogs, redes sociais, revistas, bem como Jornais.

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