Sobre o Chão da Moçambicanidade

0
444

De Campos Oliveira a esta parte muita tinta preta ganhou vida em forma de palavra a serviço da literatura em páginas de jornais, revistas e livros, em Moçambique. Ideias do belo, de um mundo outro entre o possível e o impossível concretizaram-se a limpar a lâmpada de Aladim entre várias influências. A literatura constituiu-se matéria dos pilares do edifício (da ideia) que é este país. 

Na fundação do moderno Estado moçambicano, aliás, na imaginação desse futuro, os escritores, tal qual profetas, anunciaram que seríamos uma nação. A «terra do nenhures», a Utopia descoberta por Thomas Morus foi tecida, no nosso caso por, entre outros, Reinaldo Ferreira, Glória de Sant’Ana, Rui Knopfli, Sebastião Alba, Nuno Bermudes, Fonseca Amaral, Ilidio Rocha, Lourenço de Carvalho, Ana Maria Barradas, Maria Rosa Colaço, Alberto Lacerda, Victor Matos e Sá, Maria da Silva Pinto. Não que em todos estes escritores projectou-se o vislumbre de um país independente, mas participaram nas obras da infraestrutura literária. 

Este espaço geográfico traçado na Conferência de Berlim, entre outros processos – como a deliberação de Mac Mahon que desbancou Delagoa Bay para dar lugar a Lourenço Marques -, naturalmente, foi tendo com o tempo seu jeito próprio de ser, ver, sentir, estar e pensar. Um Ser único na aldeia global. A arte como privilégio da cultura através da literatura nos revelou ao mundo a reflectir o nosso imaginário, a provocá-lo, a questiona-lo e a inventa-lo. 

Várias circunstâncias e condicionantes da realidade social, política e económica de um tempo (status quo) definem os ícones, as suas vedetas, os celebrados. No momento imediato, no agora, a arte não escapa a essas condicionantes, há escritores que são valorizados décadas após a sua morte, muito depois do seu tempo (qual tempo?). Enfim, peripécias do tempo. 

Do escrutínio dos players makers da vez, há os projetados, visibilizados e outros cuja obra prevalece na periferia, ignoradas ou esquecidas (?). O propósito deste Chão da Moçambicanidade é publicar reflexões, críticas e contos de escritores moçambicanos do século XX. Acender – sem nenhuma pretensão – a luz.

A instituição literária moçambicana, no corredor dos quadros de honra, ostenta Orlando Mendes, Luís Bernardo Honwana, Noémia de Sousa, Virgílio de Lemos, José Craveirinha, Orlando Mendes, Isac Zita, Albino Magaia, Fernando Leite Couto, Aníbal Aleluia, Heliodoro Baptista, Rui de Noronha, João dos Santos Albazine, Amin Nordine, Bahassan Adamodjy… e outros que este exercício irá nos revelar. 

…pousar o pé no nosso chão, fazer o caminho e traçar um trilho como acontece no capim no mato…pisar o nosso chão…

Artigo anteriorEDUARDO CHIVAMBO MONDLANE, IDEIA UNIVERSAL
Próximo artigoO leito de Procustes
É licenciado em Jornalismo, pela ESJ. Tem interesse de pesquisa no campo das artes, identidade e cultura, tendo já publicado no país e em Portugal os artigos “Ingredientes do cocktail de uma revolução estética” e “José Craveirinha e o Renascimento Negro de Harlem”. É membro da plataforma Mbenga Artes e Reflexões, desde 2014, foi jornalista na página cultural do Jornal Notícias (2016-2020) e um dos apresentadores do programa Conversas ao Meio Dia, docente de Jornalismo. Durante a formação foi monitor do Msc Isaías Fuel nas cadeiras de Jornalismo Especializado e Teorias da Comunicação. Na adolescência fez rádio, tendo sido apresentador do programa Mundo Sem Segredos, no Emissor Provincial da Rádio Moçambique de Inhambane. Fez um estágio na secção de cultura da RTP em Lisboa sob coordenação de Teresa Nicolau. Além de matérias jornalísticas, tem assinado crónicas, crítica literária, alguma dispersa de cinema e música. Escreve contos. Foi Gestor de Comunicação da Fundação Fernando Leite Couto. E actualmente, é Gestor Cultural do Centro Cultural Moçambicano-Alemão

DEIXE UMA RESPOSTA

Please enter your comment!
Please enter your name here