Por Obedes Lobadias
Mãe!
A dívida que tem este país
para com a senhora,
sabemos, não é oculta.
Nem é ilegal
tal se diz das outras.
ainda assim,
se nunca a merecemos
como a saberemos pagar?
Talvez nem gás, nem petróleo,
nem atum,
nem madeira, nem pedra,
nem terra há
que justifiquem um café.
E, cá entre nós, sequer sobra sonho
para uma comissão.
Pergunta-nos,
se no teatro do nosso teatro
já vimos peça maior
se nem a própria vida cabe,
para, pelo menos, ensaio
do grande espectáculo que és.
Ou, ensina-nos…
se agora que este país está um teatro
devemos ou não tirar as máscaras?
Se na cena de Cabo Delgado,
ali onde o protagonista matou
não era para ter abraçado?
Ali onde toda gente chorou,
não era para ter sorrido?
E, ali onde medo brotou
não era para a esperança
ser plantada e o sonho colhido?
…e na incomum vala
de cada coração apavorado,
de cada alma ferida,
de cada corpo tombado,
não havia ali um palco, aliás,
uma mina de felicidade
por ser explorar?
Diz-nos!
Se o figurino da paz não está tão rasgado,
se a luz do futuro não está mal regulada,
se a fala dos direitos humanos não foi esquecida,
temos ou não uma lástima de encenador?
Explica-nos!
Por que quando a morte faz espectáculo,
não pagamos bilhete?
Aliás, faz mais nada.
Apenas perdoa a nossa dívida, mãe.
Seja revista a constituição!
E, em decreto irrevogável
aprove-se e promulgue-se:
o hino, o emblema, a bandeira
a senhora
e todos que a estas palavras
apetece abraçar
e levantar-se
para uma vénia eterna,
como símbolos nacionais.
© Obedes Lobadias