O Bizi

Por: Pedro Pereira Lopes

Numa vila chamada Mafambisse, vivia um ladrão chamado Bizi. O homem era claro sol pardo, estatura média, uma cabeça quadrada e músculos firmes. Bizi era tão famoso que os outros gatunos e pequenos malfeitores espalhavam terror e agiam vestindo o seu nome. Diziam:

Em nome do Bizi…, como se dissessem “Em nome de Jesus”, e as pessoas sequer lhes resistiam aos assaltos.

Mas Bizi não era ladrão de furtos de lucros módicos, pensava sempre grande, assaltava grandes restaurantes, grandes supermercados, casas grandes de gente de elite. Quase nunca era preso. Às vezes, ficava desaparecido por dois dias ou uma semana, para depois reaparecer cheio de sorrisos, folgazão, passeando com a sua bicicleta Gazebo de quadro 28 como gente normal, do bem. Mas ninguém esquecia que ele era o mais persevero, o mais assustador.

Um dia, meia-noite, Bizi invadiu uma residência. Entrou sozinho, para estudar o interior, enquanto os seus dois companheiros esperavam do lado de fora. Não tinha gente em casa, confirmou, porém quando tentou sair pela porta, sentiu-se inchar, o seu corpo não coube na entrada. Assustado, tentou outras vezes, mas assim que se aproximava da passagem, dilatava, tornando impossível a sua fuga. Na janela, o resultado foi o mesmo.

Assustados com a estranheza da situação, os seus comparsas abandonaram-no à própria sorte.

Na manhã seguinte, Bizi foi preso; e no mesmo dia, transferido para o hospital com uma bala na perna. Viveu mais dois anos, apoiado em muletas.

Jamais alguém questionou as circunstâncias do tiro. Não importava. Durante muito tempo, nunca ninguém entendeu o que tinha acontecido naquela noite.

Foi feitiço do bem, asseveravam.

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