Textos de Morgado Mbalate
AFRICANIZANDO
Quando o meu sonho me ilumina eu escrevo África.
África me faz e me rodeia.
Eu amo essa gente cheia de África.
O chão da África tem cheiro de mim.
Na África, todos os caminhos nos levam às fontes da terra e às origens do mundo.
E o que me torna africano? É o amor pela terra e pela cultura.
A terra me ilumina. A cultura me encanta.
Minha alma é atravessada por imensos rios, como o rio Nilo, que nasce no meu corpo.
Em mim há quedas de águas, sobre mim, caminham cursos de rios.
A maioria dos rios da África nasce no planalto dos meus olhos.
Por isso, eu caminho de mãos dadas com flora e a fauna.
Sou savana africana de mim mesmo.
A poesia africana é para se vestir dela e correr poemas pelo mundo.
E eu escrevo para justificar a poesia africana.
Não acredito na riqueza material fácil para todos os africanos.
Mas acredito no ideal de riqueza espiritual através da promoção da cultura.
Eu hoje escrevo o coração da África.
Nunca me separo da África porque a trago dentro de mim.
África é dentro de mim.

MORADA
Para Mia Couto
Teve um dia que tinha um rio correndo na palma da minha mão.
Peguei nesse rio pensando que de um lápis se tratasse.
E tentei escrever um poema na pele de um beija-flor encostado ao chão.
Tentei também fotografar a voz de uma borboleta.
Entretanto, só consegui beijar o corpo de uma luz.
Fiquei feliz por ter tentado construir uma casa com poesia na imaginação.
Nesse dia o pôr-do-sol se fez dentro de mim.
A partir desse dia minha alma passou a ser a morada do ciclo do vento.
ODISSEIA DA ALMA
A alma é pássaro.
Multicolor e multiforme.
Ora assume a forma da terra e a cor do mar.
Ora assume ao mesmo tempo a cor e a forma do vento.
Em verdade, em verdade, o corpo é ramo no qual a alma decola.
Toda alma é pássaro terno e eterno.
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Morgado Henrique Mbalate (1993) nasceu e vive na cidade da Matola, província de Maputo, (Moçambique). É autor, empreendedor, escritor, palestrante e poeta moçambicano. Licenciou-se em Filosofia na Especialidade de Recursos Humanos e Ética, pela Universidade São Tomás de Moçambique (2014-2018), com especial destaque para o tema do seu trabalho de fim de curso: “A Crise de Valores Morais na Contemporaneidade na Perspectiva de Friedrich Nietzsche: a Condição Moral do Homem que Matou Deus”. Estudou Electrónica e Telecomunicações, na Escola Nacional de Aeronáutica (2012-2013, Moçambique). Recebeu menção honrosa no Premio Mondiale di Poesia Nosside (Itália, 2014) e no Prémio Fernanda de Castro (Categoria de Poesia) do IV Concurso Internacional de Poesia e Prosa (Brasil, 2017). Foi distinguido no Solar de Poetas pelo poema Morada (Brasil, 2014). É autor do livro de poemas “Odisseia da Alma” (Editora Edições Esgotadas, Viseu, Portugal, 2016), da Crônica “Covid-19 Palavras para Aliviar o Isolamento Social e 8 poemas de Morgado Mbalate”, e de vários artigos. É membro da Academia Internacional da União Cultural (Brasil). Participou no CD de Literatura Negra “O que nos a Bala” (Socoraba: Brasil, 2018). Recebeu Certificado de Participação no programa de Empreendedorismo “Starting Your Creative Enterprise Programme”, oferecido pelo BRITISH COUNCIL (2020). Está presente em diversas antologias poéticas nacionais e internacionais. Colabora regularmente nas revistas literárias brasileiras Letrilha e Por Dentro da África.