As novas paisagens que a Tégui nos propõe

A procura de outras propostas sonoras, novos sopros para a alma, cruzei-me com The Internet, Jorja Smith, Selma Rose, Daniel Caesar, H.E.R entre outros que estão a (re)inventar a música.
Essa malta, a partir, naturalmente, do que já existia, propõe outras estéticas, outro paradigma que foge da plasticidade do pop (embora Jorja tenha uma tendência mais para lá). Mas é uma música que, recorrendo a diversos outros géneros, cria-se, inventa-se e acontece. Há, nesse mix, vestígios de hip-hop, r&b, soul, funk, entre outros subgéneros.
O que marca esta corrente é a ambição de penetrar no espírito, tocar no âmago da alma, proporcionando a experiência musical um sentido mais humano, se quisermos. São passos que se querem distanciar do supérfluo.
Embalado nesse universo, recebo o link do álbum “Eleven”, da Tégui. Sigo o link e logo na primeira faixa fica claro que esta jovem moçambicana, igualmente, está a propor outro lugar no sentir, no estar consigo mesmo.
Pertencente a uma geração que vive diariamente com a luta interior de aceitação de si próprio, não deixou de dar voz a este ímpeto ao longo das oito faixas que compõem o “Eleven”.
Sem estar de todo despida do lo-fi, essa febre que viraliza nos circuitos alternativos do YouTube, Tégui dá voz, em “Mais eu”, por exemplo, ao lado de Keybeatz, a ideia de aceitar-se como sujeito e protagonista do seu próprio destino. A família, a media, a escola, a igreja e a sociedade de uma forma geral impõem os seus padrões de vida, os valores que só a eles interessa sem perceber que podem estar a amordaçar os sonhos de alguém, a matá-lo todos os dias que ele aceita ser a marioneta. É isso que esta música nega.
Liberta, disse-me certa vez, depois de ouvir TRKz que é outro inventor na música de Maputo, sentiu-se mais a vontade para fazer do seu jeito diferente, buscar a sua singularidade, o néctar da sua flor.
Inglês, português e guitonga fazem este álbum, ilustrando parte da identidade de Tégui que cresceu em Maputo e é descendente de manhambanas. Reconhecendo a língua como residência de uma cultura, pode-se assumir que este triângulo, em parte, sustenta o olhar desta arquiteta para o mundo.
A sua voz é a jóia deste trabalho, daí não espantar vê-la acompanhar várias bandas. No coro, por exemplo, no final do ano passado, deu outra frescura à banda Gran Mah, no lançamento do seu segundo álbum, no Centro Cultural Franco-Moçambicano.
É, seguramente, uma das melhores vozes que entra para esta cena que actualmente, no topo, temos nomes como Rodhália Silvestre, Onésia Muholove, Regina Santos, Assa Matusse, a desabrochar.
Tégui consegue ser uma outra ideia, outro lugar, outra experiência. E ela é herdeira de um mundo que até já conhecíamos, mas recriado. “Nungungulo” facilmente recorda Tânia Tomé, mas logo esclarece que não.
Emergindo do meio alternativo, no qual habitam ainda Nandel, Cantinho das Flores, The Mute Band, em 2016 trouxe a superfície o single “Namasté”, com quatro faixas e ainda em Fevereiro de 2018 “Picaso”.

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