Poemas de Denise Kangandala

Textos de Denise Kangandala

Um paradigma a meia-lua

Um paradigma a meia-lua
uma visão de carne aos factos
são ventos ditando caminhos
dos pobres de tudo
até as artérias do abdómen

Um paradigma que
ditam noites de assombro
nos estômago dos esqueletos
que pensam ser gentes
quando na verdade são fantasmas
soprando fogo nos pratos vazios

Um paradigma onde a escola
é inventada pelos seus dilemas
num universo cheio de arestas
na visão da pedra

Pintura de João Timane
Pintura de João Timane

A Zungueira é sua Mãe

Há quem diga que
a zungueira não é nada
um trapo roto
jogado a beira da estrada
consumida por qualquer bicho da vanguarda
Afinal quem és tu?
que pensas como vento
que andas de lés em lés
pensando ser o marrento
A zungueira também é um ser humano
que espalha seus frutos de contributo
ao vender sua boa acção
tanto ao rico como pobre
porque sabe que ambos têm vida
e precisam dos seus bons préstimos para mitigar a fome
A zungueira não é lixo que julgas ser
é uma mulher completa
que vagueia pro mato ou cidade com dignidade
vendendo peixe, legumes e frutas
em busca dos pães para os filhos
A zungueira que denigres, é sua Mãe e Mãe de outrem
que não opta em prostituição mas sim ao sacrifício
para o futuro de uma criança que ao se tornar adulto
possa ver em seu olhos
o mundo correndo cheio de sol e harmonia

Angola

Sonhei um dia ser poeta
ver o povo que entoou grito
numa terra que sangrou luto
entoar a paz sonhar enfim
ser borboleta
neste imerso por onde anda Angola
em vez de pólvora
em vez de sangue
cultivar no deserto deste chão
a esperança e o amor

Sonhei um dia ser poeta
com a minha alma brotar
com meu cérebro brotar
meu mundo… Angola

João Timane
Pintura de João Timane

Gravuras do mar

Reconheço o cinzel das águas no bater volátil das ondas
no céu dos olhos há uma imagem há um pensamento
por onde navega o fogueado do meu corpo
não sei a quem pertencem as sílabas
que descrevem as gravuras dos mares em meu destino
no embrião das beirinhas virgens
no sopro da flauta seguem símbolos do meu dáctilo
não sei a quem pertencem as sílabas
deitada ante a gravura o mar é mensagem de outro amor
talvez um paraíso
talvez um pedaço de siso prometido por algum sorriso

Arquipélago

Há um arquipélago na tela da vida
que vai se desfolhando ao vento
nas paredes de segredos e outros ritos
há uma sincronia do sol com as almas
que assobiam o luar
num pântano de luz
há no recreio da visão da humanidade
uma série de aventuras
que pulam no orvalho da sua história
que vão e vêm
atendendo o gotejar do sangue
atendendo o pulsar da tripa
no lume da razão
há uma outra vida fora dessa

***

Denise Kangandala, Pseudónimo literário de Denise Joana da Silva Pedro, Filha de José Armando da Silva Pedro e Júlia Bernardo da Silva, Nascida aos 11 de Março de 1984 em Lobito.
Membro da Brigada Jovem de Literatura Angolana, Membro do Clube Nacional dos Poetas e Trovadores, escritora e declamadora, autora dos seguintes livros: Ascensão Cósmica lançada 2008, Galáxia de Sorrisos lançada em 2012 em Luanda, e Borboleta dos meus vagares publicada em 2014 em Lisboa.
Participou em vários programas de Televisão e radiofónico, publicou vários textos em vários Semanários e Jornal de Angola, foi premiada pela Semba Comunicação em 2011 no programa da Gala Angola 35 Graus na categoria de Cultura e Arte.

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