Uma exposição para repensar passado

EM tempos de Facebook e Instagram, as selfies e memes tomam as rédeas das circunstâncias. A exposição audiovisual “Up Cycles”, patente na Fortaleza de Maputo, segue outra perspectiva, repensando o passado colectivo dos habitantes lusófonos.

Resultante de uma Residência Criativa, organizada pela Associação Amigos Museu e Cinema, a mostra reúne obras dos moçambicanos Eliana Nzualo, David Aguacheiro, Marilú Carrilho; dos cabo-verdianos Ângelo Lopes, Rita Rainho e Samira Vera-Cruz; para além da angolana Sofia Yala Rodrigues.

A partir do material de arquivos, entre fotografias e vídeos, os expositores propõem uma (re)leitura de memórias recentes dos países envolvidos, cuja língua e cultura portuguesas foram instrumento de subjugação, terminada há menos de um século.

Recorrendo a arte, “Up Cycles” quer retrabalhar os significados e reutilizar esse material para posicionando-se num ponto de vista contemporâneo, com a respectiva distância que a história permite.

A mulher, por exemplo, na instalação do fotógrafo e videomaker David Aguacheiro, que conta com televisores “corcunda” desligados a representar o passado – em tempos de TV Led e Smart TV’s -, envergando vestes militares, aparece para questionar se o seu papel foi apenas de apoio às equipas dos homens.

Eliana Nzualo, feminista assumida que expôs-se publicamente pela escrita, convoca esteiras e o pilão com a intenção de propor uma interpretação diferente, que as sociedades patriarcais têm desse material.

As feridas dos conflitos libertários, na memória do cidadão comum, é o material que Sofia Rodrigues apresenta. E evidencia que nalguns casos a crista ainda é uma miragem e que aqueles episódios marcaram personalidades e, por tabela, participam na forma destes relacionarem-se consigo mesmo e com a sua família.   

Com efeito, neste percurso, este trabalho que objectiva reescrever com arquivos audiovisuais, que teve como tutoras a moçambicana Maimuna Adam e a portuguesa Ângela Ferreira, alguns discursos dominantes são colocados em cheque.

Para o alcance desta meta, os jovens artistas, de diferentes expressões artísticas que cruzam o som, imagens estáticas e reais, em movimento, socorreram-se de diversos suportes, alguns até inusitados, como areia, para reflectir a imagem. 

Este projecto entende que o arquivo não pode limitar-se a mero repositório, abrindo-lhe as janelas para continuarem nas nossas redes sociais – não só as da Internet – a participarem no imaginário colectivo.

O próprio espaço da Fortaleza, por significar resistência, o último reduto acaba emprestando outros valores a esta mostra, que estará patente até 7 de Novembro.

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