Roxmazito: três vozes para não esquecer

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SE fosse no desporto diríamos que são jogadoras da Primeira Liga. No cinema poderiam, tranquilamente, ser o esquadrão de elite que chega para resolver tudo. Estão na música e chamam-se Rhodália Silvestre, Onésia Muholove e Xixel Langa. As três jovens cantoras fazem parte, individualmente, da nata de vozes nacionais mais potentes da actualidade. E as três decidiram criar um projecto a uma voz a que designaram ROXMAZITO.

Na sexta-feira subiram ao palco do Centro Cultural Franco-Moçambicano e, mais uma vez, mostraram porque razão deste epíteto, mas também porque Rodhália Silvestre e Xixel Langa, por exemplo, não param de “papar” prémios na maior e mais antiga parada musical nacional, o Ngoma Moçambique, promovido pela maior e mais antiga estação emissora do país, a Rádio Moçambique (RM). Ora sendo artistas revelação, ora sendo melhores vozes, por vezes arrecadando prémios de melhor canção.

Nesse concerto, as três cantaram os seus originais e recriaram de outros compositores, num exercício em que, por exemplo, o tema “Rosa Maria”, de Alexandre Langa, foi servido. Não de bandeja, mas sim com tons de muito labor , suor , requinte e quilate.

Ao apostarem no Afro-jazz, com uma veia soul, influenciada, sobremaneira, pela Xixel Langa, as meninas não pouparam o auditório.

Vamos ao começo: é noite de lua cheia. Fria. Vários carros cercam a estátua de Samora Machel, no pico da avenida que leva o seu nome. Na entrada do CCFM há uma fila.

No interior, entre as cadeiras do jardim, a galeria com uma exposição de Doris Graf e o bar, os convivas cumprimentam-se. O relógio já passou das 20.30, hora marcada para o início.

O sino toca, a plateia posiciona-se entre os bancos. A banda arranca, as três entram, electrizadas, ainda no primeiro tema, a plateia já está rendida.

Prosseguindo: Onésia Muholove, a mais nova, que, entretanto, tem acompanhado vários artistas – de Azagaia a Jimmy Dludlu – exibiu um controle vocal notável. Quando as três tinham de colocar a voz, em simultâneo, a textura da sua ia se destacando. Detalhe: o nível esteve em alta ao longo de todo o concerto.

Caminhar por diferentes géneros, depois de ter se iniciado na igreja, empresta à Onésia Muholove outros valores à voz. Até resquícios de ópera ainda conseguem ser derramados.

Com muita animação, o palco foi sendo um passeio de animação, pelo contacto contagiante com a plateia que, com assobios, aplausos e ovação, respondia às meninas.

Rodhália Silvestre, de poucas palavras, transporta com a sua interpretação, cuja voz parece ir buscar nalguma gruta de ancestrais – dá impressão de abrir uma janela, donde várias almas libertam-se.

Xixel Langa é conhecida nestes palcos há vários anos. Esteve mais contida, talvez para “não roubar o protagonismo às mais novas”, comentava-se à saída do espetáculo. O seu a vontade e o libertar da sua energia potente foi um dos ingredientes que tornou a noite mais envolvente.

Com “Ubuya hi kwini”, seu clássico, arrancou, novamente, o público dos bancos. “Há muito que não ouvíamos esta música”, disse Ana Maria Tovela.

“E foi na primeira versão, que talvez por ter sido a primeira que ouvi, me comove mais que a que está no álbum, “In Side Me”.

Jimmy Dludlu foi o músico convidado. A surpresa, na verdade. Afinal, o seu nome não vinha no cartaz. Tem sempre um outro sabor ver e ouvir Jimmy Dludlu no palco. Ele acarinhou Roxmazito, um projecto musical a ter em conta.

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É licenciado em Jornalismo, pela ESJ. Tem interesse de pesquisa no campo das artes, identidade e cultura, tendo já publicado no país e em Portugal os artigos “Ingredientes do cocktail de uma revolução estética” e “José Craveirinha e o Renascimento Negro de Harlem”. É membro da plataforma Mbenga Artes e Reflexões, desde 2014, foi jornalista na página cultural do Jornal Notícias (2016-2020) e um dos apresentadores do programa Conversas ao Meio Dia, docente de Jornalismo. Durante a formação foi monitor do Msc Isaías Fuel nas cadeiras de Jornalismo Especializado e Teorias da Comunicação. Na adolescência fez rádio, tendo sido apresentador do programa Mundo Sem Segredos, no Emissor Provincial da Rádio Moçambique de Inhambane. Fez um estágio na secção de cultura da RTP em Lisboa sob coordenação de Teresa Nicolau. Além de matérias jornalísticas, tem assinado crónicas, crítica literária, alguma dispersa de cinema e música. Escreve contos. Foi Gestor de Comunicação da Fundação Fernando Leite Couto. E actualmente, é Gestor Cultural do Centro Cultural Moçambicano-Alemão

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