E a conversa dos pássaros?

Redemption song – Bob Marley

O debate é ferrenho, chilreiam em simultâneo, talvez incomodaram-se com o frio cortante que cobre a cidade, neste demorado inverno. É Setembro.
Os corvos rompem o céu cinzento e as árvores dançam ao sabor do vento, que vai na direção norte.
Ninguém quer ouvir, todos falam, os pássaros. O seu encanto, revela-se pelo avesso. Não é poética aquela conversa. Não é polido o canto. Vizinhos, vizinhos, estamos a falar de vizinhos. Os pássaros não se entendem. Não obstante residirem na mesma árvore.
A sorte, pelo tom, é que os machados são pesados, as kalashes e outras russas, ucranianas, americanas, não têm compartimento no ninho. Os pássaros berram. O frio penetra, a neblina faz a sua performance. E os pássaros não cessam.
No cinema, invariavelmente, anunciam maus tempos. Na literatura não! Servem a lira. Não são artistas, os que ouço, de certeza. Não são os de Bob Marley. Não sabem fazer poesia. Sabem a um black coffe muito amargo. Os últimos tempos não têm sido calmos, entre os vizinhos. Os pássaros amainam os ânimos. O motor de uma motorizada, na auto estrada, rasga a monotonia sonora. Os ventos vem mais frios, o corpo geme.
As galinhas, no quintal de madeira e zinco, entre os becos estreitos do bairro Luís Cabral, entram na conversa. Outra orquestra desafinada. Por um instante os pássaros cantam, e as galinhas berram. Calam-se. Os pássaros silenciam-se, a sinfonia ruidosa da auto-estrada recupera o espaço, compõe a trilha sonora.
E eu, permaneço sem perceber a conversa dos pássaros.

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