Poema de Guita Jr.

Texto de Guita Jr.

Solidões [3.]

incerto
o instante em que o tempo se suspende
e é o silêncio
vácuo
nada respira

por fim
o tempo porque mestre
desperta o engenho da sua magia
para se acertar do tropeço
e consertar o lapso do seu compasso
ou coração

munido das incertezas
que atribulam este agora
o poeta
golpeia tenaz a máscara cega do futuro
que antevê

depois
arrasta-se pelo chão azedo do beco da agonia
e já de bruços trémulo e ofegante
esfolada alma desalmada
porque não é sempre que sabe chorar
vai de cicatriz em cicatriz magicando
a partitura do seu desalinhado canto
ou desencanto

há uma luz que se nubla começa
a descer
e envolve o que lhe sobra ainda desse corpo
segura então o poeta com as duas mãos
aquilo que há-de ser
um suspiro

e parte para o suposto voo e são muitos
os tons de azul que há para navegar nesta vida
ou poema

e é novamente o silêncio
e se há que amar o silêncio
há-de também amar a solidão

porque as sereias existem
e choram o seu canto
no mar calado que o poeta guarda ao peito

Pintura de João Timane

* * *

Guita Jr. (Francisco X. Guita Júnior) nascido a 14 de março de 1964 em Inhambane, Moçambique.
Inicia a sua actividade literária no Xiphefo, Caderno Literário, em 1987, do qual é membro fundador.
Estreia-se em 1997 com o livro de poesia O Agora e o Depois das Coisas (Ed. AEMO – Associação dos Escritores Moçambicanos). Em 2000 publica Da Vontade e de Partir (Prémio FUNDAC – Rui de Noronha, 1999) e Rescaldo (1.º Prémio de Poesia TDM – Telecomunicações de Moçambique, 2001) pela editorial Ndjira. Lança em Portugal e Moçambique, em 2006, Os Aromas Essenciais pela Editorial Caminho e Ndjira, e Los Aromas Essenciales em 2010, pela Ediciones Baile de Sol, Islas Canárias.
Tem textos dispersos em jornais e revistas nacionais e estrangeiras.

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