Os luminosos voos de Mauro Brito

Mauro Brito encontrou na escrita um caminho para expressar sentimentos e iluminar almas. Nas suas primeiras duas obras apostou na poesia infanto-juvenil, pois redige com leveza, diz o incomum, o alternativo, com palavras simples e claras.

Conversamos com o autor, que há dias lançou “O Luminoso Voo das Palavras”, que sai sob chancela da Kuvaninga Cartão D´arte.

Sem títulos, redigidos sem letras maiúsculas os poemas de Mauro Brito desafiam as regras pré-estabelicidas e têm ambição de criar novos paradigmas.

“Gosto de liberdade, os meus poemas são plumas ao sabor do vento”, detalha, deixando implícito que as “leis da escrita” são normas criadas por homens, podendo ser contrariadas. “Gosto do verso livre. Neste livro, os meus poemas não estão presos aos títulos, deixei eles soltos, para que se comuniquem, se conectem, quando lidos e compreendidos”, disse.

No fundo, o título da obra “O Luminoso Voo das Palavras” está em todos os poemas. “O título sempre viaja, é uma espécie de resumo de todas as coisas, que pretendo falar. Apela para o pensamento, a visão e outros sentidos”.

Com o título, Mauro invoca algo luminoso, construtivo, que desperta o sentido da palavra, enquanto algo bom e brilhante. “Porque a palavra é algo, que nos liga, há muito, desde a nossa existência, apresentada de várias formas e à medida que vamos, através dela, crescendo, descobrimos outras nuances da vida, da sobrevivência e do amor”, argumenta, salientando, que “encontramos a pertinência deste título pelo força da palavra – o poder decorativo, meditativo, poder de transmitir emoções e sentimentos e o poder de (poder) atravessar o tempo e o espaço”.

No olhar do filósofo e crítico literário Dionísio Bahule, prefaciador da obra, Brito “não se isola dos problemas doutros homens. Fica atento; aprecia; sente e convida a todos a olharem pela poesia os problemas, que nos rodeiam”.

Livro de Mauro Brito: O luminoso Vô das Palavras
“O Luminoso Voo das Palavras”, a segunda obra do poeta | Foto: Isaias Sitoe

Na entrevista, o poeta diz que a condição humana é uma das suas preocupações. “Na obra convido o leitor a valorizar os seres humanos”, pois, a palavra reforça a ligação dos viventes.

Escrever para o público infanto-juvenil, defende Mauro Brito, é um exercício reconfortante. “É uma categoria complexa, mas que agrega valor a quem redige”. O poeta refere, que ao escrever procura criar imagens, que despertem a imaginação dos mais novos.

Natural, como uma conversa, a construção dos textos de Mauro compara-se ao trabalho das formigas, simples, ordenado e com resultados. Depois da busca dos assuntos a serem redigidos, o poeta trabalha na mecânica da escrita, na construção do texto, na estética, na ordenação dos versos e estrofes.

O jovem poeta acredita, que é possível ser profundo, tratando temas do dia-a-dia, actuais, próximos de quem lê.

Poeta Mauro Pinto em grande
O autor aposta na escrita livre | Foto: Isaias Sitoe

O nosso entrevistado aposta numa poesia mais suave, doce e serena. Por vezes, nostálgico, busca memórias, encontra refúgio no passado, para dar cor aos seus escritos. “Gosto de aproximar experiências, aproximar o tempo, narrar as nossas vivências”, explica.

Os poemas têm ritmo, uma melodia própria, que guia a leitura para um passeio pelas imagens, que os textos sugerem. Para encontrar a sonoridade, que dá aos textos, Mauro Brito gosta de se isolar no silêncio, pois, o sossego, da madrugada, inspira a criação. No entanto, por vezes, redige no caos, cala os barulhos e sai um poema.

Algo curioso, o livro tem uma nota do escritor em branco. “Nada escrevi, não quero influenciar o leitor. Quero que os poemas falem por si, quero que descodifica o que escrevi, tire as suas próprias conclusões”, referiu.

“O luminoso voo das palavras” é o 25° título da Kuvaninga Cartão D’arte – editora moçambicana, sem fins lucrativos, que se dedica à produção de livros, com capas de cartão reaproveitado, uma oportunidade, para formar leitores ao disponibilizar o livro a baixo custo e de promover jovens escritores, possibilitando a publicação de suas obras. A editora alia, desta feita, a literatura, as artes plásticas e o meio ambiente, através da recolha e reaproveitamento do papelão.

O escritor apontou devido à sua componente ambiental e social. “A aventura é bastante recente, começou com um desafio. Gosto de apostar em desafios. Assim surgiu a ideia de lançar o meu livro com uma editora alternativa”, disse.

O autor juntou alguns poemas, que não puderam ser publicados, na sua primeira obra, “Passos de Magia ao Sol”, que saiu pela Escola Portuguesa de Moçambique e com ilustrações de Bárbara Marques. “Também criei novos poemas, que deram outro corpo ao meu novo livro”, acrescentou.

Mas quem é Mauro Brito?

Mauro Brito fez teatro de rua, dança e tirou brevet, tornando-se piloto de aeronaves. Também estudou contabilidade e auditoria, mas esse foi o ensejo traído pelo espírito digressivo, que empresta aos livros infanto-juvenis, que vai escrevendo. Colaborou com vários jornais e revistas, como Missanga, Debate, Blecaute, Cultura, Literatas, que tem sido o viveiro de onde despontam vários poetas da sua geração.

Mauro Brito escreve no silêncio e no caos | Foto: Isaias Sitoe

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