O caos nas minhas costas

Doi-me os ombros. Hoje sai de casa queria me ver no espelho. Está frio, mas meus lábios estão secos, queria humidece-los com algo cristalino, palavras oliosas, que destravam qualquer porta enferrujada.

Penso em meus dias. Analiso os meus dias, penso, remoe acontecimentos. É embaraçoso, é constrangedor: vejo os meus actos. Escrevo para esconder a minha face, face aos acontecimentos.

Este cão é mais grande do que as minhas habilidades. Não sei como controla-lo. Seguro, mas ameaça pintar os seus dentes com sangue. Não posso sair com ele: temo a prisão, meu cão quer reagir.

É embaraçoso. Muito mesmo. Mas continuo a escrever. Não posso parar de escrever. Não posso parar, temo não me entender mas o que faço. Nada tenho a fazer. Calo, relaxo, quero fugir, mas o facto de estar a escrever atenua a dor.

Já me expôs de mais, estou nu, está frio, peço algo para cobrir, me cubram por favor! Me comprimo, agarro no meu cão para que ele não fira ninguém, ele não pode ferir ninguém. Não mesmo. Está mal isso. Ignição dolouse. Agarro no cão, ele é mais forte que eu, move meu corpo, não sei como fazer face, agarro como posso, Sinto os meus braços com mais força, sinto que segurei bem o animal. Ele suspira ofegante, com raiva, de vez em vez, dá uma investida, move meu corpo, sinto a batida do seu coração. Continuo a segura-lo. Ele fez mais três investidas. Seguro com o máximo de força. Ele está a ficar fraco. Pauso. Sinto que também tem dores nos ombros. Fica murcho, nos deitamos na areai e contemplamos o nada com intenção.     

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