O Sanidade

Hoje olhei para ele inquieto. Com a cabeça virada para o chão, fingia que estava a meditar. A língua, que normalmente balança entre os dentes e o ar, estava estacionada no interior da boca.

Reparei para o Sanidade, estava meio perturbado, pelos sintomas parecia que estava a combater a uma dor de cabeça. Deixa-me parar de escrever. Talvez seja melhor investigar: Será que cães têm dor de cabeça?

– Escreve Otto, conta o que viste. Podemos entrar numa biblioteca, consultar na estante sobre veterinária, na prateleira Doenças de Cães Domésticos. Ou podemos perguntar ao Senhor Internet.

– Obrigado pela explicação, agora me deixe continuar.

Meu cão agora anda lento. Pensa nos passos, calcula todos os seus actos. Erra quase sempre. Ladra para as visitas. Por vezes, confunde-se, ladra com raiva para mim, o seu legítimo dono. Ontem, tentou perseguir-me, como se eu fosse um invasor da casa. Pensei que fosse uma brincadeira, saí às correrias, olhei para trás e reparei que ele ainda estava no meu encalço. Despistei-o.

Repousei num dos becos da minha consciência. Fiz tempo e depois voltei. Abri a porta e o Sanidade veio até mim. Deu vários pulos de felicidade. Olhei para ele meio apreensivo, mas deixei-me embalar pela pela sincera alegria.

Sentei para tomar chá e escrever. Do nada, o animal começou a uivar. Latiu. Depois, sem justificativa, gritou, como se tivesse sido maltratado. Um vizinho abriu a porta. Vizinho intrometido:

– Otto, és muito mau!?Estás a maltratar o seu cão porquê?

– Olhei. Calei.

O cão correu, aproximou-se de mim e demonstrou-me afecto. Sem boca, meu vizinho saiu como um cão molhado. Fiquei a sós com o Sanidade. E do nada ele latiu para mim. Perseguiu-me. Saí de casa, corri. Olhei para trás e vi que meu vizinho me perseguia. Parei. Ele perguntou:

– Otto, onde deixaste o Sanidade?

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