A paz que o professor busca

“I hear babies crying, I watch them grow/They’ll learn much more than I’ll never know” (Eu oiço bebés a chorar, vejo eles a crescerem/Eles vão aprender muito mais do que eu nunca vou saber), cantou, optimista, o trompetista Louis Armstrong, no clássico “What a Wonderful World”.

A sua expectativa, presume-se (até porque é a de todos), era que as gerações futuras dessem passos maiores que os que no presente estão a ser dados. É sempre naquele espírito de estarmos a caminhar para a “Terra Prometida”. É essa mesma luz que terá guiado o sujeito poético que se incorporou no dramaturgo alemão Bertolt Brecht para escrever “Os que virão depois de nós”.

Ao sair da aula, muitas vezes o professor moçambicano se debate com a seguinte questão: ou ambos artistas eram muito idealistas (platónicos, talvez) ou a construção desse futuro carece de estômago, resiliência e mais alguns outros órgãos e forças sobrenaturais. Aqui os nossos ancestrais, os Khoisan, assim como os habitantes do Olimpo são convidados a dar o seu contributo.

O dilema da educação é, como circula no senso comum, um professor que encontra uma sala cheia de alunos que apenas querem passar de classe, ignorando o esforço que deve ser empreendido para que tal ocorra.

Várias vias de análise podem sugerir respostas. A mais acessível indica que há uma deliberada despreocupação e desatenção desta juventude, que nada mais quer saber do que “perder tempo” nas redes sociais da internet a partilhar “o nada”; a beber e a incomodar com música alta no meio de zonas residenciais.

Outra, que talvez seja a mais ignorada, é que nós, que deveríamos ensinar, provavelmente estejamos a falhar. Estamos a permitir que eles sejam distraídos e que desconheçam o facto de nada cair do céu.

É engraçado notar que, diariamente, no Whatsapp partilhamos imagens lindas com dizeres como: “é pelo exemplo que se ensina”. Daí uma ou duas perguntas nos “assaltam”: será que os alunos não são o nosso reflexo? Não será que culpar o outro é uma forma de enganar o espelho?

Note bem: o nós aqui empregue não é apenas a classe de professores. Até porque todos o somos, independentemente de contratados ou não por uma instituição para tal.

O gesto diário é observado e absorvido por alguém. Caso estejamos a ser nocivos, estamos, por tabela, a semear danos para o futuro.

A situação que muitas vezes o professor encontra na sala de aula é de um aluno que não fez a revisão da matéria, no terceiro ano do nível médio ou quarto do superior nunca pegou voluntariamente num livro para ler. E ninguém se espanta com isso!

Um sentimento de angústia toma conta desta figura que passou a noite anterior a preparar uma aula para encontrar a contraparte no escuro. Lamenta que eles não tenham cumprido com as obrigações.

Já até tornou-se letra morta reivindicar menos tela para mais livro. O professor tem a consciência de que se, ao sair da aula, noutros espaços em que o aluno está inserido ninguém prosseguir com o seu trabalho nada estará feito. É como aquela luta que se faz no prédio, em que no terceiro andar, numa das flats se combate o rato, enquanto os dois outros simplesmente convivem com o animal.

O saber popular diria tratar-se de um assunto já com barbas brancas. É cavernoso perceber a sua marginalização. Ainda é uma miragem o “Sleep in peace when day is done”, que a Nina Simone sentiu no “Feeling Good”.

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