As mulheres podem fazer serenatas e mais uma infinidade de coisas

Por: Eta Matsinhe

As mulheres reuniram-se, este mês, no jardim do CCFM — Centro Cultural Franco Moçambicano — para celebrar o seu dia com risos, abraços, danças e em jeito de música dizerem tudo o que lhes vai na alma.

O público que formou uma moldura humana, no CCFM, ouviu da voz de Xixel Langa as súplicas de uma mulher que deseja estudar, trabalhar e ser reconhecida, mas que o marido a chantageia com lágrimas e a prende em casa.  No fim da actuação, Xixel explicou que o tema ‘let me be‘ quer dizer, deixa-me ser e “reclama o direito de a mulher ser independente economicamente”.

E por sua vez, Rodalia Silvestre, com um gingado inconfundível, fez lembrar que a wansati — mulher em língua changana— não é apenas um ser, mas uma forma única de ser. Cantou bem alto todas as habilidades da wansati quando se trata de buscar o sustento para a família e prestou a devida homenagem às mulheres que carregam bebés nas costas e em simultâneo cultivam a terra ou fazem-se a rua para vender tomate, badjias, carvão, etc; e frisou que quando as coisas não correm bem ela não perde a esperança, porque ela tem sempre um “pulano” (plano) B em mente.

DEMOCRACIA (5).JPGE como tratava-se de festa, Anita Macuácua e Ziquel Matlhombe, recriaram o tema ‘Malaika’ de Miriam Makeba, e mexerem a cintura com a sensualidade única da mulher moçambicana, arrancando aplausos e mikulunguanas da plateia.

Em um dos momentos mais eufóricos da celebração, a poetisa Enia Lipanga e a cantora Assa Matusse subiram ao palco para prestar o tributo a cantora Zena Bacar, que já não faz parte do mundo dos vivos; com os trajes típicos da província de Nampula as meninas combinaram os seus talentos para recordarem a sociedade que em muitos lugares a mulher ainda é vista apenas como aquela que deve servir o lar e que meninas se veem impedidas de gozar os seus direitos, como por exemplo o de ter acesso a educação.

Mas, porque não são só preocupações que fazem parte da agenda da mulher moçambicana, Yolanda Xikana fez-se ao palco e ofereceu rosas as mulheres ao interpretar a musica ‘Xiluva’.  Perto fim do show, interpretou serenata e afirmou que as mulheres também podem e devem colocar-se à uma janela em noites de luar para dizerem o quanto amam aos seus parceiros.

Para encerrar em grande, todas as divas subiram ao palco para tsovar e cantar ‘alfândega’ da, já falecida, cantora Zaida Lhongo; uma música que retrata a vida dura das mukheristas —vendedoras informais— que no dia-a-dia travam lutas contra as autoridades alfandegarias para conseguir importar produtos e fazerem os seus negócios. Segundo Yolanda, “a música da Zaida foi escolhida porque ela foi a rainha da música moçambicana e se estivesse viva faria parte do show”.

Fazendo um balanço, Yolanda revelou que sempre teve a certeza de que as mulheres escolhidas para o projecto fariam um belo trabalho, e o que mais lhe marcou foi ver o público cheio de emoção e feliz. “Isso é sinal de que superamos as expectativas. Não há show sem uma plateia calorosa, a plateia contagiou a banda e as cantoras”, finalizou.

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