Livrarias: Black Holiday?

PARA que serve a literatura? Para nada, mas o nada é de um vazio insuportável que pode construir significados em palavras a partir das 23 letras do abecedário, que, independentes, são apenas nada. O que pretendemos dizer?

As avenidas da cidade estão mais frescas sem a tensão habitual. Os miúdos estão de férias, na sua larga maioria. Agora é tempo de passear, rever os primos, os tios, os avós. É um tempo de graça e reencontros. A luz do presépio já sinaliza o seu brilho, o Natal está próximo. O Dia da Família está a chegar.

Liberdade é talvez a palavra mais próxima da realidade, que se pode usar para caracterizar o ambiente que os alunos estão a gozar. É saudável. Cada um opta por fazer o que mais lhe agrada. Está a alimentar o “eu” interior, a libertar-se das algemas da responsabilidade do período das aulas.

A tarde é passada na praia, no campinho, naquele jardim ou a jogar “Play Station” ou “Xbox” no quarto de um amigo. E os livros? Esses nunca aparecem nas fotos dos estados do WhatsApp.

Pode ser que os papás se tenham esquecido de comprar alguns livros para as férias dos meninos. A educação, tanto a formal como a informal, é um processo contínuo, que se complementa na formação de um Homem.

É um facto que as livrarias poderiam aproveitar a onda e criar um “Black Holiday” para aliviar os cintos dos papás e participar na construção de futuros clientes. O “rapper” Kloro, no seu álbum “Xigumandzene” – um passo de maturidade – disse que se concentrou nos livros para transcender, crescer, evoluir e alcançar aquele estágio, para o qual nos convida Platão, na sua eterna alegoria da caverna. Valete, em “Poder”, ilustra o mesmo.

“Se é na escola que se ensina, em casa se educa”, diz Kloro, num dos versos. Eis um convite para que os pais gerem hábitos que estimulem a imaginação dos filhos. A inteligência disse, entre outros, o escritor brasileiro, Rubem Alves, precisa ser estimulada. Os livros? Sim.

Parece oportuno aproveitar as férias para fazer do livro uma moda na juventude. Sairmos para a rua, de tarde, e lidarmos com os nossos pequenos a lerem um livro no muro da esquina e a discutir os mortos da obra “O Apóstolo da Desgraça”, do escritor Nelson Saúte.

“Cada criança é uma flor”, canta Roberto Chitsondzo, em “Dondza”. A verdadeira escola não tem edifícios, nem salas de aula. É a vida. Os intelectuais Francisco Noa e Nataniel Ngomane, nos saraus do Movimento Literário Kuphaluxa, várias vezes afirmaram que quem lê um livro melhor poderá ler o mundo.

Estamos a cuidar de um país que num futuro próximo não mais nos pertencerá. Esta juventude é que terá tomado o poder. É o ciclo natural da vida. É preciso que dêmos o nosso contributo para que nessa altura, ilusoriamente distante, os edifícios tenham uma fundação forte.

A literatura? A literatura é esse lugar onde o imaginário constrói enredos, recria o mundo, sugere…a literatura, sim!

Esperamos que os papas já tenham pelo menos assumido que ainda há tempo de oferecer, emprestar um livro aos meninos. No final, seria interessante lermos as suas redacções sobre as férias. A foto no Instagram e no Facebook, ainda que com legenda, não é a mesma coisa que um texto.

Um último sopro: talvez assim façamos falir as empresas de vendas de correcção de exames. Já percebemos que a impunidade fixou residência naquele esquema. Temos de a contornar.

lEONEL2

Acredito que pequenos gestos podem mudar o mundo. Encontrei no Jornalismo a possibilidade de reproduzir histórias inspiradoras. Passei pela rádio, prestei assessoria de imprensa a artistas e iniciativas. Colaborei em diversas página culturais do país. Actualmente sou repórter do jornal Notícias. A escrita é a minha arma”.

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